sábado, 28 de julho de 2007

O velho chateau daqueles rapazes de antigamente

Um puxado de zinco sobre chão batido, pedras e tijolos ali disponíveis, logo se improvisava o fogão. A lata de querozene Jacaré dezoito litros tinha virado panela, já esterilisada pelo uso constante. O peixe – jundiá ou pintado – dividido em postas, se cozinhava ensopado em tempero de salsa, pimenta, alho e vermelhão, afora o sal naturalmente. A água chiando na lata velha, enquanto o trago solto corria de mão em mão, parecia animar cada vez mais aquela gente na fanfarronice dos seus causos.
Não fosse o dono da casa servir pacientemente os seus convidados e estes avançariam famintos na panela indefesa. Assim, o corpo alimentado, é que se lembravam de tratar do espírito: surgiam então, de todos os cantos do barraco, violões, cavaquinhos, bandolins, pandeiros, agês, surdos e outros acessórios imprescindíveis naquele círculo sonoro. As cordas se esquentavam com a afinação dos instrumentos. Uma melodia puxando outra e mais outra e mais outra, o repertório se formava ao natural.
Lá pelas tantas, alguém começava a sentir-se melancólico, recordando alguma dor-de-cotovelo e não resistia àquele clima alternativo de tristeza e alegria. O sujeito se ensimesmava na sua saudade, recolhia-se solitário na sua discrição. Mal se dava conta que os outros se apercebiam da sua fossa e cortando o embalo logo providenciavam em levantar o seu astral. Segredos não existiam entre eles. Que tratasse pois o dito cujo de ir desabafando a sua desdita; esta o atingindo, contagiava o todo ali presente.
A tensão do ambiente carregado, as horas calmas da noite, era chegada a ocasião de mudar os ares – quem sabe encarar a madrugada lá fora e até acordar a causadora daquela perturbação repentina, interrompendo-lhe o sono tranqüilo com uma inesquecível serenata!
Que importaria a distância, lá todos iriam despreendidos ante o compromisso maior da solidariedade e da ventura de se fazerem presentes naquele momento decisivo da vida do companheiro. Lá todos iriam nem que tivessem de gastar a própria sola dos pés. Para voltarem de alma limpa e passos trôpegos, cantarolando as notas e os acordes da melo-poesia que despertaria as pessoas adormecidas, pelo caminho. Provavelmente, haveriam de sentir-se aureolados a andar nas nuvens como arcanjos-seresteiros.

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