domingo, 22 de julho de 2007

Qual a razão deste meu gosto pela música? ( I )

Problemas de audição e de visão, nenhum dom em especial para o canto ou a execução de qualquer instrumento, seja de cordas, de sopros ou de percussão.
Lembro-me que costumava trocar idéias com meu tio e pai de criação, o saudoso Cantalício Resem, em minha opinião excelente poeta, cuja obra pessoal não chegou a ser preservada, perdida que ficou em inúmeras gavetas: dele sempre me acudia cada vez que procurava alguma rima para os versos que costumava ousar e ele nunca deixou de me incentivar por mais precária que fosse a minha composição. E assim foi-me despertando o pendor pelas letras.
Autodidata, aconselhava-me a ler os bons livros que me repassariam as melhores noções de gramática. Além disso, proporcionava-me ora a sua rica biblioteca de Juiz de Direito, ora os recursos da livraria, da tipografia e do jornal de propriedade da sua esposa, também saudosa Florisbela de Souza Resem.
Aliás. embaixo das duas vitrinas, onde se expunham as novidades recebidas, situavam-se depósitos fechados que recebiam os saldos de livros antigos e ali eu costumava entocar-me como rato de sebo, procurando algo de meu interesse.
Essa livraria, denominada A Miscelânea. era bastante freqüentada como ponto de referência de viajantes que chegavam à cidade, muitos deles procurando o jornal A Folha para noticiar suas atividades. Recordo-me do grande poeta Cornélio Pires quando esteve em Jaguarão para proferir conferência espiritualista numa das entidades locais e eu atrás do balcão, ainda menino, também servindo de interlocutor na sua conversa com meu tio.
Quando chegou à cidade o médium Capitão Pacífico, de Porto Alegre, esteve dando atendimento na sala de jantar de nossa casa, preparada na ocasião para receber aqueles necessitados.
Esse meu tio, uma vez, levou-me para assistir a uma peça no Cine Theatro Esperança, da qual teve que se retirar mais cedo porque eu comecei a bater pé como fazia nas matinês do cinema.
Outra vez, também me levou para um churrasco na estância do Coronel Agenor Garcia. Caminhos de chão batido, dormi algumas horas até chegar lá, em pleno interior do nosso município, ali senti-me miúdo no meio de tanta gente importante. Este universo descerrava-me os horizontes da cultura.