segunda-feira, 23 de julho de 2007

Qual a razão deste meu gosto pela música? (VII)

Assim, apesar de introspectivo, posso dizer que, cercado pela agitação de tantos ruídos urbanos, os mesmos sempre soaram para mim como uma sinfonia, contribuindo bastante para me despertar uma provável paixão sonora.
Ainda hoje, ecoam nítidos os acordes de é com este que eu vou sambar até cair no chão, aquele samba de Pedro Caetano que ficou gravado em minha memória, desde o tempo em que seguia o bloco Marujos do Amor, comandado pelo incrível folião Heponino Costa, através das ruas de Jaguarão.
Ou então ia assistir a passagem do Troveja Mas Não Chove, o cordão do Curto, precedido pelas evoluções das asas imensas do morcego do Ari, seguido pelo carro da Arara – arara aí vai, arara aí vem – que, dizem as más línguas, certa ocasião, obrigou a que se aumentasse a altura do portão da garagem onde fora construído para sair à rua.
E ainda tinha a borboleta do Rosa que abria caminho ao passo imponente do seu Teodoro, presidente perpétuo da Sociedade 24 de Agosto, dirigindo o tradicional Bataclã.
E aí me animei a botar na rua minha fantasia de cow-boy, calça, colete, chapéu e canana para revólver de chumbo, máscara preta tipo zorro, que eu mesmo confeccionei com a embalagem das resmas de papel da tipografia costurada em barbantes. Saí de fininho. Quando o pessoal em casa me viu na avenida, eu estava sendo depenado pela molecada, chô mascarado, deixando-me de cuecas.
Depois, comecei a sassaricar nos bailes do Clube Jaguarense, cujo presidente, Comendador Arnaldo Dutra, mandava-me permanente para todos os dias de folia a fim de preceder a comparsa.
Na rua, desfilávamos fardados com camisetas de time de futebol, correndo como se estivéssemos entrando em campo, junto com alguns aspirantes cariocas do Regimento que batiam triângulo ao estribilho de Dim-dim-dim, saravá pai Joaquim ou então nos ensinavam a cantar Oi, iáiá, cadê o vaso, / o vaso de fazê cocô? / Eu vou lhe contar um caso, / eu caguei no vaso, / me limpei co’a flô. / Sacanage, sacanage / e você não sabia / que o vaso era só / de fazê lavage. Por pouco, pouco, não apanhamos da assistência.