segunda-feira, 23 de julho de 2007

Qual a razão deste meu gosto pela música? (XIV)

Concluído o ginasial e prestes a cursar o científico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, meu tio Cantalício informou-me que o meu padrinho Dr. Alfredo de Mello Tinocco estava me oferecendo uma carta de recomendação para ser entregue ao deputado Dr. Poty Medeiros. Orgulhoso, agradeci a gentileza e declinei da mesma por não julgá-la necessária. Chegando à Capital, fui acolhido na residência de Lucy, Hidalgo e Dª. Olga, mãe dele. Ali, passei a levar uma vida calma e equilibrada entre o lazer e o estudo. Até que, uma noite, contemplando o retrato da minha mãe, falecida aos treze dias do meu nascimento, na tentativa infrutífera de me lembrar do seu rosto, sentado à mesa da sala, dei um soco nesta para me inspirar: Como o cego/ ante a luz que lhe restaura
a visão perdida... Como o surdo/ ante o som que lhe propaga
a melodia da vida... Como o mudo/ ante a ocasião de murmurar
a palavra refletida... Assim eu/ oxalá pudesse/ tornar a minha mente
a imagem esquecida no momento em que,/ na encruzilhada da vida, nos separamos/ eu e minha mãe querida. Enviei esse texto para meu tio Cantalício, em Jaguarão e ele me escreveu: Amar aos dezoito anos/ e ser poeta, mulher, é desvendar os arcanos/ que não os desvenda quaisquer.