sábado, 23 de fevereiro de 2008

SEM MEDO DE SER NOSTÁLGICO

O meu amigo Antunes Severo, diretor geral do Instituto Caros Ouvintes, criou uma expressão – sem medo de ser nostálgico – a qual considero genial e bastante feliz para ser aproveitada até como jargão publicitário. e que ele precisa registrar urgentemente para que outros aproveitadores não se adonem da mesma.
Nos dias atuais, somos constantemente bombardeados pela filosofia de sempre louvar a Deus pela graça de estar vivendo no presente, deixando de lado os tempos idos que não voltam mais e também desconsiderando o futuro desconhecido e ainda iminente.
Um pouco de romantismo e nostalgia não faz mal a ninguém – assim eu parafraseio um título de uma crônica anterior para justificar esse nosso apego pelas coisas de outrora, cujas recordações, boas ou ruins, representam uma fonte de experiência e resguardo da memória coletiva.
Um exemplo concreto que nos ocorre está aí representado pela fidelidade para com seus antigos admiradores do pianista Norberto Baldauf em manter o seu Conjunto Melódico por mais de meio século na ativa, realizando bailes memoráveis para surpresa e gáudio de todos aqueles românticos incuráveis.
O assunto já foi tema do livro, recentemente lançado na praça, de autoria do jornalista Marcello Campos intitulado Week-End no Rio que conta a trajetória desse Conjunto através de um século e meio de existência.
Ricamente ilustrado, chamou-nos atenção uma das fotos dos anos cinqüenta em que aparece a formação original do Melódico, composta por Raul Lima (violão elétrico, guitarra), Victor Canella (acordeom), Léo Velloso (contrabaixo, empresário, showman), Fausto Touguinha (ritmo), Wilson Baraldo (bateria), Norberto Baldauf (piano) e Luiz Octávio (crooner), todos eles englostorados, com gravatinhas borboletas, os cinco primeiros na vestimenta característica de casacos azuis.
Já em 17 de setembro de 1983, quando se realizou a Noite do lembra? nos salões da Sogipa, marcando o reencontro dos componentes do grupo, desta vez não contando com a presença do saudoso Léo Velloso, a nova fotografia mostrava a equipe enxertada de outros elementos posteriores como Heitor Barbosa (vibrafone), Sadi Silva (baixo), Carlos Calcagnoto (bateria) e Edgar Pozzer (crooner).
Victor Canella, Léo Velloso, Fausto Touguinha, Wilson Baraldo e Léo Belloni foram desfalques de saudosa memória, enquanto Luiz Otávio, Heitor Barbosa, Sadi Silva e Carlos Calcagnoto afastaram-se por vontade própria; portanto, Raul Lima, Norberto Baldauf e, eventualmente, Edgar Pozzer, são os remanescentes que atuam no Conjunto Melódico, presentemente apresentando-se em eventos como o da recente reunião dos colecionadores de carros antigos, comemorativa dos 28 anos do Veteran Car Club do Brasil-RS.
Zé Vidal (teclado), Vilmar Neto (contrabaixo), Marcelo Quadros (crooner, violão), Norberto Baldauf (teclado, piano), Zé Carlos (percussão, voz), Daniel Lima (bateria) e Raul Lima (guitarra) estão aí para o que der e vier, conseguindo emplacar um baile a cada mês.
E o nosso jovem Raul Lima que hoje assopra 84 velinhas no bolo da sua existência, é dos mais entusiastas nessa continuidade do espetáculo, apesar das inúmeras defecções por que já passou o Melódico Norberto Baldauf, uma verdadeira instituição da nossa cultura musical.

4 comentários:

Anônimo disse...

Valeu, Grande Mestre! Não se admire se usar parte do texto no meu programa, com crédito ao autor é claro. Abração, Vila.

EDEMAR ANNUSECK disse...

Grande mestre José Alberto de Souza

Obrigado pelas suas palavras gentís e maravilhosas expressadas pelo autêntico e único "poeta das aguas doces". Estou lisonjeado com suas manifestações que me dão cada vez mais coragem a apostar logo, logo no meu próprio site.
Na verdade estou resolvendo uma série de coisas particulares e profissionais. Aguardo uma definição sobre a volta ao rádio de São Paulo que se DEUS quiser vai ocorrer em curto espaço de tempo. Está tudo na dependência do "vil metal".

Um alegria em receber seus comentários pelo quais agradeço de coração,
Um grande abraço
Edemar Annuseck

Anônimo disse...

não por acaso, o melho do melhor está lá atrás, bem atrás. o novo, embora deva ser saudado não representa hoje 1/1000 da fonte de criação de antes. não chega a ser um saudosista, mas não tenho e por jamais terei medo de ser nostálgico. o meu desejo é que o novo venha com um sopro renovador, instigante, e criativo, e não meras reproduções. claro, há muita coisa boa e elas é que devem ocupar espaços. excelente post. abraços.

Jacqueline disse...

O perigo de ser nostálgico é acababar percebendo que há mais lá por onde passamos do que...
Mas o que há de mal? Como diz bem o cronista, sem medo de ser nostálgico, lembrar de certos fatos, certos momentos, só pode é acrescentar. E está tudo dito. Perfeito. Grande abraço, Jacqueline