quinta-feira, 12 de junho de 2008

...e acabei quebrando a cara!!! (III)

(continuação)
Ai quem me dera que a estória terminasse por aqui. Outra vez, um dos trapezistas Hermanos Aguileras não podia participar do número com indisposição estomacal.
Carambôla - assim eles me chamavam – tenés que ir!
E lá naquelas alturas, numa das plataformas Carmencita, aquele mulherão de tirar o chapéu, e na outra, Huguito e eu. Carmencita se manda e vem até nós:
Veni, Carambôla!
Eu me atiro de qualquer jeito, ela me apanha no ar e me leva até a sua plataforma. Ali ela se agarra toda em mim:
Mi querido, mi querido...
Do outro lado, Huguito salta no seu trapézio, Carmencita me empurra, Huguito cruza os braços e eu fico pulando na rede de segurança. Carmencita logo vem em seu trapézio e me segura num daqueles pulos, voltando comigo até sua plataforma, e eu de lá tocando flauta no enciumado Huguito:
Mi querido, mi querido...
Esperem aí, eu tenho mais coisa pra contar. E aquela do atirador de facas, então, não tem no gibi. A companheira entrou em licença-maternidade e eu tive de me travestir como partner. Primeiro, eu vinha aos pulinhos e ficava rodopiando em volta de Dom Orlando que anunciava:
Y ahora com usteds el renomado batedor de la cavaleria americana, el Indio Apache com sus machaditas mortales...
Ele entrava todo agachado, os joelhos dobrados, olhando de um lado para o outro com uma das mãos em pala sobre as vistas e brandindo um enorme machado acima da cabeça, chegava a dez passos de onde se encontrava a roleta, erguia-se e esperava que me amarrassem naquela roda, aí se virava de costas, colocavam-lhe a venda nos olhos, a roda girava e ele atirava as machadinhas que se cravavam a milímetros próximos do meu corpo, ora no sovaco, ora quase arrancando uma das orelhas, no meio das pernas e por aí afora. O segredo do truque estava no peludo que girava a roleta, aparando as machadinhas nas áreas livres. Assim, é que, graças à sua habilidade, consegui sair são e salvo daquele número. Quando me soltaram da roda, eu tremia adoidado. Tiveram que me segurar para que eu andasse até onde se encontrava o Indio Apache, que me perguntou:
Como te llamas?
Carambola, eu lhe disse. E ele:
Ahora, eres Caram...
Eu insisti: Carambola. A observação dele:
Pero, mira lo que se quedó pendurado en la ruleta...
Desgraçado, desgraçado, eu te mato, eu te mato - e o Indio Apache saiu dali zunindo como uma flecha.
É melhor parar por aqui, se não eu é que vou ter de me desviar da pontaria de vocês!
Fum Imbora Mem?

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro José Alberto de Souza,

Você foi brilhante. Conversei com Orlando Orfei e ele confirmou “ipsis literis” toda tua trajetória “memorável” e simplesmente marcante. Aliás, pediu que te recomendasse ao Cirque du Soleil. (rsrsrsrsrsrsrs).

O Antunes também me contatou e se disse realizado por compartilhar de tua amizade. Eu idem.

Unknown disse...

Oi, Zé Alberto,
Rí prá valer... está ótimo !
Sou da mesma opinião do Edemar Annuseck: o Cirque du Soleil não sabe o artista que está perdendo...
um abraço, Stela.

Anônimo disse...

Está ótimo.
Merece ser inscrito no festival de mentiras de Nova Bréscia.