quarta-feira, 11 de junho de 2008

Faz bem uns cinquenta anos... ( I )

Lá na minha terra apareceu um famoso circo. De longe, assisti os caminhões chegando e descarregando todo o material para a montagem do picadeiro, das arquibancadas e da cobertura de lona. Era uma corrida só de peludos pra lá e pra cá, esticando as cordas, carregando painéis, o diabo a quatro. A estréia estava prevista para o dia seguinte e tudo tinha que ficar pronto até lá. Enquanto isso, todo o elenco ia desfilando pelas ruas da cidade, as jaulas uma atrás da outra, leões, tigres, ursos, depois os elefantes, a girafa e outros bichos mais.
Como era o costume naquele tempo, quando não se tinha dinheiro para pagar o ingresso, passava-se às escondidas por baixo da lona e assim o fiz antes da sessão começar só para dar uma olhada mais de perto nos animais. Então, um cidadão de cabelos grisalhos, alto, corpulento, chegou até onde eu estava e me cochichou ao pé do ouvido, com a voz rouca quase sumida: Buenas, soy Don Orlando, el proprietário del circo e necesitaria que usted hicieseme um pequeño favor. Ocurre que estoy afónico, imposibilitado de presentar el espetáculo y faltame un substituto. No tiene mistério, usted puede hacer eso facilmente. Yo le enseño despacito y usted se va a desempeñar muy bien.
Surpreendido no flagrante, eu não pude me recusar de jeito nenhum. E assim lá fui eu para o centro da arena. Naquela época, ainda não existia o microfone e a última palavra de equipamento era um megafone com fio ligado na tomada elétrica. Pois bem, mal a furiosa põe-se a tocar e eu entro correndo até o meio do picadeiro e começo a anunciar:
Señores e señoras, a partir de ese momento, el Gran Circo Universal tiene el honor de presentar al respectable público, sus atraciones internacionales...
(continua)

3 comentários:

Anônimo disse...

Hombre, ma que revelaccion fantastica.
Voi a sugerir el mano Severo una reportage sob el asunto. Como dicen los hermanos : "fuste mui bien".
Que beleza. Eu quando jovem adorava circo. Faz anos que não tenho ido assistir.

Edemar Annuseck

Anônimo disse...

Não acredito no que leio...

Gilberto disse...

Muito bom Souza. Que experiência fascinante! Estou curioso para ler a continuação.