quarta-feira, 11 de junho de 2008

...que fui aliciado por um circo... (II)

(continuação)
E aí começou a entrar bicho que não acabava mais, era elefante, era girafa, era urso, era macaco, era pônei, era cachorro, era palhaço, era trapezista, era equilibrista, era mágico... Mas eu comecei a me fixar na bailarina branquinha, branquinha, de uma alvura de propaganda de sabão em pó, ela vinha equilibrada num pé só, os braços estendidos e a outra perna esticada no ar, nem se mexia, em cima de um percherão e, naquela aflição, eu fui girando, girando junto com o carrossel e nem me dei conta que estava me enredando todo com o fio do megafone. Aí o cara que vinha em cima do elefante percebeu o que estava acontecendo e murmurou na orelha do bicho:
Ciranda, cirandita, vamos todos cirandar.
Ciranda, cirandita, media vuelta vamos dar.
O elefante girou para trás e a bicharada veio junto e eu rodando no carrossel consegui me soltar daquele monte de fio. Foi então que o percherão saiu da roda e ficou andando de lá pra cá e de cá pra lá na minha frente. Numa dessas, levantou a cola, deu um pinote e ploft ploft seguiu no trote. A bailarina deu uma mexidinha e logo se recompôs, mas eu não resisti e dei-lhe um baita berro:
Cuidado, niña, que te vas a melecar toda!
Vocês podem pensar que com essa eu já estava livre da enrascada, que nada, não é que Don Orlando me convidou para viajar com o circo e eu fui ser pau para toda obra. Um belo dia, o domador inventou de sumir na hora do espetáculo e adivinhem quem foi que teve de entrar na jaula com as feras? Não teve jeito, me explicaram direitinho e lá fui eu fazer outro papelão para enfrentar o Sultão e o Poderoso. Acontece que o tigre Sultão era gay e eu não podia deixar ele se aproximar muito de mim para que não me agarrasse e fizesse alguma indecência na frente da platéia. Era chicotada pra cá, chicotada pra lá, uma cadeira na outra mão empurrando ele pra longe quando se punha a rebolar:
No te fresquees, Sultón!
Já o Poderoso era um leão velho, bastante dorminhoco, que eu tinha que despertar a toda hora, dá-lhe chicote, fincar a cadeira na sua juba, bater no tambor, assustá-lo com o barulho, porque se facilitasse perigava ele cair no ronco ali mesmo. Assim, eu tinha que gritar alto e bom som:
Poderoso, mostrate como eres valiente!
(continua)

2 comentários:

Gilberto disse...

Bah Souza. Estás "te puxando" nos relatos humorísticos. Muito bom. Manda outra.

Anônimo disse...

Oi Souza
De onde tiras tanta imaginação?Esta leitura te prende até o fim.
Parabéns
Diná