sábado, 20 de dezembro de 2008

Um compromisso para o Natal (III)

(continuação)
O Castelhano sentiu que tinha diante de si um confidente confiável e, por isso, resolveu se identificar:
- Mi nombre es Rafael. Hacía compañía a mi madre desde el dia que mi padre desapareció como ativista político, a decir verdad que algunos no gustabales escuchar... Dejé mi madre solita por hallar que aburro su vida... Y además también mi novia me despreció diciendo que soy ocioso, no haciendo nada para que merescala...
- Mas tu hás de convir comigo, Rafael, a razão não está do teu lado. Abandonando a tua mãe, a deixastes desesperada... Talvez, neste momento, esteja ansiosa por saber notícias tuas, E eu não acredito que sejas um desocupado, a não ser por falta de vontade. Tens o bem maior que o Senhor te legou – a tua juventude, a tua vitalidade! Vais me dizer que não tens alguma habilidade que te valorize?
- _Esto es verdad, Coronel! Yo soy maestro instrumentista, gustame tocar la flauta dulce... Hace poço tiempo, ganaba unos trocaditos enseñando música a quien tênía interés em esto, pero, era tan poço que juzgaba no valer la pena continuarlo...
- E isto já é alguma coisa, Rafael! É um dom divino que poucos tem a oportunidade de desenvolver. Assim, poderias ajudar a tua mãe e, quem sabe, motivar a reconquista do respeito da tua amada, a quem não conheço, mas me parece deve gostar muito de ti e apenas te rejeitou para que reagisses, para que desses um jeito na tua vida...
- Ella llamase Leila, es mui hermosa como brasileña buena que es... Atraeme sobremanera por serlo cariñosa y sincera, Muy culta, destacase en su profesión – professora como vosotros decís. Es um suplício para mi estar acá a recordarla...
- E que estás esperando, meu rapaz? Não perde mais o teu tempo que é precioso e volta logo para tua casa, para os braços da tua mãe que te esperam abertos e ansiosos para te abraçar...
- _Sabe, Coronel? Hace três dias que acá estoy y la primera persona que comigo habla es Usted. Y esto hacíame uma falta imensa. Tênía un gran deseo que cualquiera de esas personas a cruzar insensibles a mi dolor dijiesenme lo que Usted diceme. Sientome otro y eso animame a proponerlo - _aceptar mi compromiso de volver a encontrarnos en el dia de NAVIDAD! Jurole por la gracia de Diós, acá estaremos Leila y yo Rafael para saludarlo com afecto y la gratitud de mi madre. Marque la hora, por favor, _las nueve en punto!
O castelhano barbicha já estava erguido e se afastava a passos largos circundando aquele degrau, passando ao lado direito da Igreja e tomando rumo lá para as bandas da Ponte Internacional, enquanto o Coronel se deixava ficar emocionado naquele terceiro patamar, a refletir na sua significação religiosa – se é difícil entender o sofrimento, mais difícil ainda é aceitá-lo, mas é o preço a ser pago pela salvação do homem.
Dedicado à professora Delícia Ramis Bittencourt e in memoriam a Guadil Bittencourt - mestres das letras e da solidariedade, aos quais sempre vislumbramos no horizonte da lembrança (conforme publicação no Jornal A Folha, de Jaguarão, em 24/12/1985).

6 comentários:

Anônimo disse...

Pelotas, 15 de março de 1986.
A Abel Kaur - Jaguarão.
Assaz tardiamente, do que me penitencio, não por desídia, explicando-lhe que o lapso deve-se a que recentemente, quando de meu regresso das férias, inteirei-me de "Um Compromisso para o Natal", dedicado à minha pessoa e "in memoriam" a meu falecido esposo.
Hoje venho, através destas linhas, agradecer a Abel Kaur a gentileza, dizendo-lhe que gostaria de identificá-lo, simplesmente pela satisfação de saber que, inobstante o tempo decorrido e a insignificância de nossas vidas, ainda existem pessoas aí nessa querida Jaguarão que, como ele, recordam-se de uma obscura professora chamada Delícia e de um castelhano desgarbado chamado Guadil que, lá no longe dos tempos, conviveram nessa comunidade amiga e quiçá com ele.
Já dizia o célebre Cícero: "A amizade não pode ser vínculo senão entre os bons".
Sabe, Kaur, comoveu-me deveras "Um Compromisso para o Natal", parecendo-me até, ao ler aquela página da nossa imortal "A Folha", identificar os seus personagens, corporificando-os naquele diálogo aos pés da nossa centenária Matriz.
Ah! quantos rafaéis perambulam pelo mundo, à procura de ua'mão que se lhes estenda e de uma palavra confortadora na hora precisa...
Penhorada, cumprimento-o amistosamente,
Delícia R. Bittencourt

Anônimo disse...

Caríssimo Souza:

Estás a te revelar um ótimo contista pela narração rica e pelo conteúdo profundamente humano.

Parabéns

Anônimo disse...

Caro Souza:
Muitíssimo bom esse teu conto, que, salvo engano, em acho que já o conhecia, desde os nossos tempos de Oficina Literária com o nosso inesquecível Laury Maciel.
Trata-se de um conto que mexe com o coração das pessoas, tem princípio, meio e fim e, sobretudo, tem mensagem.
Parabéns. Teu dotes de contista - eu já havia percebido de longo tempo - são muito bens. Por isso, deixa voar a tua pena (entenda-se A TUA IMAGINAÇÃO E O TECLADO DO TEU COMPUTADOR).
Grande abraço.
Marco Aurélio Vasconcellos

Anônimo disse...

Talentoso "contador de histórias", PARABÉNS!!! Saltam explícitos, parágrafos afora, elementos ricos e diversos, tão bem capturados quanto descritos. Há humanidade e arte. Sinais evidentes da tua alma sensível e leal. Continue!!!

Anônimo disse...

José Alberto,
parabens e felicidades nas tuas inspirações.
São maravilhosas. Trazes sempre belas recordações
de um tempo que já vai longe mas que merece,
sempre, ser lembrado.
Um abraço. Hunder

Anônimo disse...

Souza

Parabéns por tuas inspirações, um conto muito bonito. Esta igreja/praça é muito parecida com uma em Curitiba, não será a mesma?
Um abraço.
Diná