quarta-feira, 22 de abril de 2009

Trinta... e... sete... graus... à sombra !

O apetite inibido, acabo de almoçar. As janelas fechadas no sobrado, não passa uma brisa sequer pelas bandeirolas. Mal e mal consegue-se atenuar o mormaço da rua. Dar um passo já é um grande esforço. Arrasto-me displicente para o quarto. Da cozinha, vem os ruídos da limpeza dos pratos e das panelas. Livre da roupa pesada, visto o calção, tento acomodar-me na cama. Decúbito dorsal, braços e pernas estendidos, pés e mãos soltos no ar. No teto, projeta-se uma que outra imagem - um cusco vadio, cavalos, a carroça da areia, chego até a reconhecer o condutor. Mas não quero distrair-me quando as pálpebras negam-se a cobrir-me os olhos. Um repouso momentâneo é tudo que anseio. A garganta ressequida, resisto a buscar na talha a água fresca e salobre do algibe. O corpo mole, prostrado, não esboça a reação. Um suor frio escorre por toda pele - quente e arrepiada. Continuo imóvel, esperando recuperação. Dores na barriga, preciso ir ao banheiro. Ergo os braços, apoio-me nos cotovelos. Equilíbrio precário ao sentar na cama. As pernas tremidas articulam-se penosamente. Consigo levantar-me. Miro o marco da porta, apresso-me para não cair e encosto-me a ele. A visão turva. Um grito sumido. Minha mãe acode-me e peço-lhe que chame um médico. Ela nota minhas pernas dobrando-se, segura-me o braço na volta do seu pescoço, a outra mão livre enlaça-me a cintura. E sou conduzido de volta ao leito.
Meu pai traz coriphidrine e um copo d'água. Um gole sôfrego, engulo o comprimido. Não demora a surtir efeito - os sintomas daquele malestar desaparecem. Desisto do médico, sonho com querubins nas alturas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Souza:
Já no tempo em que convivemos nas oficinas literárias, escrevias muito bem.
Estás muitíssimo melhor agora, sem dúvida. Nada como uma aposentaddoria para, agora, fazeres dedicação quase que exclusiva às letras. Parabéns. Muito bom.
Marco Aurélio Vasconcellos