segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cuando sus padres no se conocían...

Encontro o Laerte Antonio e Silva. Estou ansioso por lhe contar as minhas andanças pelo Prata. Que tal um chope? Topo. Espero que ele toque no assunto. Falamos da corrupção pandêmica, da violência que grassa nas ruas e nos lares, ensaia-se até um tratado sobre a crise atual de valores. Ele psicólogo, jovem e talentoso escritor, bom partido, e eu aposentado, filhos independentes e neta bastante crescidinha, ficamos na dúvida sobre a sobrevivência de nossos descendentes nestes tempos bicudos. Angustio-me. Lá pelas tantas, aparece A Trégua, novela de Mário Benedetti, aquele autor uruguaio recentemente falecido. Finalmente, a minha deixa: pois é, acabei de chegar de Montevidéu. Aquelas fotografias, te lembras? Tu me dizias que eu deveria me haver topado algumas vezes com o Martin Santomé. Até fizestes as contas: as cartas de Isabel de 1942, mais os quinze anos passados, fechavam bem com a época. O Laerte lembra o episódio, nem engole o chope; os músculos faciais contraem-se com o riso solto, não contém o esguicho que borrifa a minha camisa de seda comprada na Deciocho de Julio. Aí lembramos do desfecho da novela que ninguém aceitou na Oficina Literária, até tentei explicar um surto de gripe asiática, houve mais de mil mortes no Uruguai. Assim fiquei sabendo, na ocasião, por correspondência de lá. Desta vez, nada fotografei; pretendia apenas relatar a viagem, comparar as impressões atuais com as antigas lembranças.
Chamava-se Florángel e tínhamos trocado cartas durante quatro anos. Julho de 1957, havíamos combinado nos encontrar em Montevidéu. Agora estive na Plaza Independenzia, onde visitei o panteão que foi colocado sob a estátua do General Artigas. Perto dali, avisto o Victoria Plaza Hotel, moderno cinco estrelas que confundo com o antigo Palacio Florida Hotel, onde me hospedara. Perguntei ao guia da excursão sobre o que fora alterado; respondeu-me que en aquél tiempo, mis padres recién habían se conocido, apenas sabia que a construção daquele hotel datava de 1960. Parece-me que ficava naquele edifício lá na esquina. Bien probable. Na chegada, a ligação telefônica, não estava na cidade. A frustração. Mandariam chamá-la. A esperança. Atento, o Laerte nem pisca. Dá uma boa história, diz ele.
Aquelas fotografias, revejo-as como cenas de um filme de antanho. A experiência de dar vida às figuras que cada um concebia no retrato do outro. Uma tarde ensolarada, passeávamos por La Rambla Costanera, a orla do rio da Prata, la pequena Copacabana. O melhor ângulo para a fotografia? Aqueles edifícios e casarões tradicionais. Aquella punta perdida en el horizonte se pone más bien con la Naturaleza. Junto os dois instantâneos, eles se emendam, formam uma vista panorâmica. Voltei a Montevidéu e, no City Tour, meu olhar brilhou de emoção reconhecendo a paisagem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro José Alberto,
Estive lendo tuas recordações de Montevidéo.
Todas as tuas lembranças me são muito familiares, pois lá eu volto, sempre quando posso, para visitar tios e primos que vivem na Capital del Plata.
Gostei muito do teu artigo e de tuas reminiscências. Um abraço.
Hunder.