domingo, 3 de maio de 2009

DISCONTUS : XXV, XXVI, XXVII & XXVIII

DISCONTUS XXV
Um cartão de Natal chegou no presídio. Um só destinatário, mas correu de mão em mão que nem uma célula: quanto mais se fragmentava, mais crescia.
DISCONTUS XXVI
O Poeta (um olhar opaco, o cigarro apagado): Ao infinito do meu amor, tentei me dividir...
O Matemático (acendendo o isqueiro, a chama na ponta do nariz): ...e terminaste reduzido a nada.
DISCONTUS XXVII
De madrugada, pé ante pé, apanho o jornal, vou ao banheiro. Topo-me com ele.
A reunião marcada, estou convocando o pessoal, chamam-me ao telefone. È ele.
Preciso buscar o carro na oficina, espero taxi. Ele está na fila.
À noite, deito na hora de sempre, minha mulher lembra:
"Temos hóspede!"
DISCONTUS XXVIII
Inteiramente à mercê da cúmplice, ele já se habituara a mandar seu recado. Nem se preocupava com a escolha -
crisântemos....................................................................otimismo,
rosas vermelhas.....................................................amor e desejo,
violetas..............................................................eu-te-farei-amar...
Discreta, a florista parecia premeditar algum desfecho para aquele caso.

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