quinta-feira, 18 de junho de 2009

A HERANÇA DE UM IDEALISTA


Em abril último, estive participando de reuniões para reativar a Associação do Museu da Imagem e do Som de Porto Alegre, ocasião em que tive oportunidade de voltar a manter contato com o seu idealizador Hardy Vedana. Então lhe falava da veteranice da maioria do pessoal que ali se encontrava reunido, afora os representantes da Secretaria Municipal de Cultura como apoiadores desse projeto. Com o que ele não concordava e retrucava dizendo da sua saúde debilitada, a qual não o impedia de seguir adiante em suas atividades de pesquisa e codificação dos primórdios da música em nossa Capital.
Era sensível a preocupação de todos os presentes em acelerar as providências para constituição e localização da sede dessa entidade, preservando e restaurando o antigo prédio onde funcionou A Casa Elétrica, fábrica de discos pioneira no início do século passado, atualmente abandonado e sito na Avenida Sergipe, bairro Glória. Velho batalhador da idéia, Vedana mostrava-se atento à explanação do companheiro Battu que vem se dedicando com afinco para conseguir legalizar o tombamento daquela área como Patrimônio Cultural do município.
A Secretaria Municipal de Cultura já vinha apoiando e preparando um projeto para ser apresentado ao Minc, de restauração da Casa Godoy, já tombada na Avenida Independência, para guardar o acervo de Hardy Vedana que seria doado àquele Museu, o qual também teria ali instalada a sua sede provisória. Para tanto necessitava que fosse realizada Assembléia Geral para eleição da nova Diretoria da Associação e aprovação do seu estatuto social.
Já em 29 de abril, Hardy Vedana não se furtou ao encargo de presidir essa Associação até 2011, tendo Nério Letti como secretário e José Alberto de Souza como tesoureiro, além de Juarez Fonseca, Danilo Ucha e Carlos Bocanera Koch como membros do Conselho Fiscal, quando então solicitou um tempo para se submeter a uma intervenção cirúrgica na iminência de ocorrer naquela época.
Uma queda, duas costelas fraturadas, pneumonia contraída, uma parada respiratória e outra cardíaca, não dava mais para resistir e, dois dias após completar 81 anos (13/06/2009), Ardy Antônio Vedana, sai de cena melancolicamente, abandonando a contragosto toda uma obra a completar, antigos projetos que jamais deixou de lado num esforço extraordinário para levá-los adiante. Mas ele nos deixa com a força do seu exemplo e desprendimento e o compromisso de prosseguir na sua jornada interrompida.
Enquanto isso, fico a pensar naquela conversa com um velho taxista, indignado com a greve dos metroviários, ocorrida recentemente, provocando um trânsito caótico em nossas principais vias de escoamento. Este também me dizia que, apesar de aposentado, continuava trabalhando para não sentir-se parasita na sociedade em que vive. E eu argumentava com a necessidade de injetar sangue novo nas instituições esclerosadas, como era o meu caso cedendo o meu espaço aos mais moços. Reacionário, queria apenas me convencer que essa gente nova era de uma geração de malandros e drogados que não se esforçava por merecer a posição dos mais experientes.
Nessa linha de raciocínio, sou levado a espelhar-me na razão do saudoso Hardy, na sua tenacidade, na dedicação de uma vida inteira a resgatar fatos, valores e costumes relegados à poeira do ostracismo. Como se estivesse lembrando daquela inscrição na entrada do Templo Positivista de Porto Alegre – os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos.

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