quarta-feira, 15 de junho de 2011

UM PERSONAGEM INESQUECÍVEL

Ao lado, uma colega comentava: “Fiquei com pena dele, acho até válido o seu desabafo, mas não vai adiantar nada”. A voz embargada pela emoção, ele havia concluído o seu protesto ante a disposição do liquidante nomeado pelo Banco Central, Adson Quintela Martins, de promover a cisão do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul em três instituições de fomento estaduais, na visão deste perfeitamente viável. Ele tratava esse cidadão como Senhor Interventor e reclamava da sua postura em não providenciar na recuperação da entidade.
Anteriormente, ele já costumava me solicitar opinião sobre alguns dos seus artigos que depois iria publicar no Jornal do Comércio. Nessa época, eu era mais adepto da hibernação daquele nosso Banco na condição de autarquia não financeira, como instituição prestadora de serviços. Baseava-me no artigo 20 dos Atos Constitutivos do Sistema Codesul/BRDE, o que nos permitiria subsistir como funcionários autárquicos de um quadro em extinção nos três Estados. Mas ele não admitia qualquer recuo, tinha a idéia fixa da imediata retomada das operações financeiras.
Em Porto Alegre, ele era uma voz isolada que procurava compor com os colegas de Florianópolis e Curitiba, mais afinados com o ideal da preservação da regionalidade desse estabelecimento, contrariando a opção gaúcha pelo banco de desenvolvimento estadual. Foi um dos incentivadores e dos raros subscritores da ação popular, patrocinada pelo advogado Antônio Carlos Gomes, contra a liquidação do BRDE, pela imediata volta a normalidade das operações de fomento à Região Sul.
Convivi com essa figura ao longo de todo esse tempo de lutas e posso testemunhar da sua vontade férrea, da sua convicção para reverter todo um processo já previamente orquestrado nas esferas federais, uma causa quixotesca. As cansativas viagens à Brasília, a família prejudicada, os problemas de saúde, os negócios particulares relegados a segundo plano, nada o demovia desta inesgotável capacidade de superar obstáculos. Inúmeras vezes o assisti frustrado ante consequências inesperadas, ante o rumo incerto dos acontecimentos, nunca porém o vi se prostrar na acomodação dos derrotados.
Luiz Carlos Beiller de Freitas, Freitinhas para os mais chegados, como Davi frente a Golias, fez a sua parte.
Artigo publicado em 1989, no Jornalzinho do BRDE.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, Souza.
Não podem ser esquecidos (se é que o já não foram) aqueles que lutaram pela preservação do Banco!
Abraços
Cabeda

Anônimo disse...

Amigo Souza!!!!!!!!!!! Meu escritor!
O que eu quero te dizer é que tens toda a razão. Poucos lutaram pela manutenção do banco de três estados. Também fui contra e paguei alto preço tendo que me asilar em Floripa (um dia te conto toda a história).
Um grande abraço
Zinaida