quinta-feira, 29 de março de 2012

De Jaguarão-RS a Valinhos-SP *** (II)

Largo da Igreja - concepção da aluna Vitória Caroline Bastos

05. – Como seria a sua continuação para esse conto? Normalmente, nenhum conto tem continuação, serve mais para provocar a imaginação do leitor que faz a sua leitura mental nas entrelinhas como aconteceu no que foi sugerido nos trabalhos apresentados, onde predominava a temática familiar. No entanto, alguns autores já estenderam os contos publicados em narrativas mais longas, como é o caso de Laury Maciel, saudoso escritor gaúcho, cujo conto “A noite do Homem Mosca” rendeu-lhe o romance “Rosas de Papel Crepom”. Também é o caso de Graciliano Ramos, que produziu “Vidas Secas”, a partir de contos publicados em “Histórias Inacabadas”.
06. – Se o senhor tivesse de reproduzir esse conto em teatro ou filme, mudaria ou acrescentaria algo? Já me salientaram o excesso descritivo na parte inicial do conto, de que não cheguei abrir mão porque necessitava construir o cenário da história onde situaria o personagem Rafael e para isso me vali do narrador “câmera” – serviu para que a aluna Vitória Caroline elaborasse a maquete do Largo da Igreja conforme ela enxergou em sua mente. Confesso que já andei pensando em submeter esse texto – pela carga cenográfica que possui - para ser adaptado em “Histórias Curtas” que é apresentado em nossa TV de Porto Alegre, deixando a cargo do Diretor as mudanças ou acréscimos que fossem necessários, inclusive o final.
07. – Há quanto tempo escreve conto desse tipo? Pelas interpretações dos jovens analistas, “Um Compromisso para o Natal” parece revelar uma mensagem edificante, o que o diferencia dos demais textos publicados em “Para Não Dizerem que Passei em Brancas Nuvens”, cada um dos quais produzidos a partir dos mais diferentes estímulos sem caracterizar um estilo definido.
08– Como surgiu a sua vontade de escrever? Posso dizer que a minha necessidade de escrever surgiu do incentivo de meu tio e pai de criação pela leitura – “lê bastante se queres escrever bem” - e em plena infância no ambiente da livraria e tipografia desse meu tio, onde “fuçava” os balaios de saldo à procura de títulos sugestivos. Ali também funcionava o jornal da cidade “A Fôlha”, onde sempre nos visitavam personalidades de passagem como o poeta Cornélio Pires, de quem me recordo ainda meninote me mostrando, no balcão da livraria, a fotografia de um livro espírita onde aparecia a imagem incorporada de seu falecido irmão através do ectoplasma de um médium.
09. – Por que escrever uma história assim? A inspiração vem quando “o santo baixa”, resultante de um estímulo externo, um fato qualquer que a gente procura dar um tratamento literário e transforma em ficção, adaptando ao nosso imaginário e criando peças para colocar no lugar daquelas que faltam num quebra cabeça incompleto. No linguajar futebolístico é como se a bola estivesse “picando” na grande área, tem que aproveitar e chutar em golo. Ai então passamos a acreditar que vamos escrever uma história para cair no agrado dos leitores e assim atingir esse nosso grande objetivo.
10. – Por que tantos detalhes para descrever o lugar? Faz parte do tratamento literário para que o leitor imagine o cenário da história, para marcar a importância do local como ponto principal da cidade, onde acontecem as grandes concentrações de público, contrastando com a hora deserta e isenta do calor humano, salientando o estado de abandono e desespero do personagem. A sua maneira de vestir, sua postura nos degraus da Igreja, ajudam a criar uma imagem de palavras, a qual poderia ser “enxugada”, por exemplo, num filme ou numa história de quadrinhos.

2 comentários:

J P disse...

Don José!

Muito boa a entrevista! E a leitora Vitória concebeu maravilhosamente o Largo da Igreja!

EDEMAR ANNUSECK disse...

Grande Mestre José Alberto de Souza, o famoso Zezinho de Jaguarão, seu futuro prefeito.
Não foi por acaso que DEUS o colocou no meu caminho. Feliz por contar com sua amizade. Suas andanças estão dando frutos maravilhosos com reconhecimento a quem sabe e faz.
Um forte abraço e ótimo final de semana

Edemar Annuseck
São Paulo - SP