segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Saindo do Túnel do Tempo >> 50 anos


CRUZEIRO CAMPEÃO ESTADUAL – 3º. e último de uma série

Em 1954, exercia a correspondência da Folha da Tarde Esportiva na “Cidade Heróica” o cronista que assina estas notas. E através desse periódico, em 1955, teve oportunidade de escrever uma série de artigos sob o título “Jaguarão nos Esportes”, no qual tecia algumas considerações sobre aquilo que foi observado no ano anterior. Então se clamava, entre outros fatores, pela intensificação do intercâmbio esportivo com outros centros mais adiantados e pela renovação de elementos como causas básicas e necessárias ao desenvolvimento do esporte naquela cidade.
E, na temporada passada, a ação desenvolvida pelo Esporte Clube Cruzeiro do Sul foi como se fosse uma “varinha de condão” a atender espontaneamente aquelas aspirações. De vez que, nesta ocasião, a jornada empreendida foi plena de confrontos com equipes diversas – de Mello, Treinta y Tres, no Uruguai, Pelotas, Rio Grande e outras tantas. E mais ainda os convites que vem recebendo a agremiação para se exibir em outras localidades, como Bagé, ante o Grêmio local, e Mello, ante o Selecionado do Departamento de Cerro Largo, atualmente disputando o Campeonato Nacional do Uruguai – amistosos esses já acertados. Além disso, os dirigentes cruzeiristas estão empenhados em apresentar em Jaguarão as equipes profissionais do Cruzeiro e do Internacional, de Porto Alegre, e Bangu, do Rio de Janeiro. Para esse fim, estão plenamente confiantes no sucesso do empreendimento, tendo em vista as ótimas arrecadações obtidas nos últimos cotejos do Estadual.
Mas também se salientou a importância da renovação de valores que se fez sentir justamente neste instante quando vários elementos estrelados vêm sendo sondados a se transferir para outros centros, apesar de ser bastante provável a conservação do mesmo plantel para o ano em curso. Assim vem acontecendo com Adãozinho, o astro principal do elenco tricolor que tem interessados no seu concurso todos os clubes de Pelotas e mais a dupla Gre-Nal; com Afonso e Fontoura, que receberam convite para treinar no Brasil, de Pelotas, após o “Torneio da Morte”, e Aramis no Esporte Clube Pelotas. Fora os atletas Ludwig e Cacaio que, apesar de não terem propostas concretas, devem se transferir para a “Princesa do Sul”, em virtude de saírem aprovados no vestibular de Economia. Contudo o Esporte Clube Cruzeiro do Sul encontra-se preparado para receber tais desfalques, tendo em conta as revelações que vem surgindo nos juvenis, tais como o arqueiro Luiz Carlos, o zagueiro Pedrinho, o médio Bayard, o atacante Pitella e outros.
Como conseqüência dessa fase áurea que vem passando o tricolor da fronteira, menciona-se os melhoramentos que são introduzidos em sua praça de esportes – o Estádio “Mackinley Rosa”. Acha-se em conclusão o Pavilhão Social, construído pelos torcedores, com fundos provenientes da venda de cadeiras cativas. Neste deverá ser instalado um Ambulatório Médico, a fim de serem realizados exames periódicos nos atletas, em caráter preventivo. Em etapas seguintes, a instalação de tela olímpica no gramado, com túnel de acesso para o árbitro e os jogadores, e a edificação, em futuro bem próximo, do ginásio coberto para a prática de football de salão, de volley e basket.
Falar mais ainda da conquista estrelada, no certame estadual de amadores, pode já se tornar monótono. Não obstante o muito que se disse até agora acerca do tricolor de Jaguarão é pouco, tendo em vista os detalhes desconhecidos que se vão procurando revelar. São fatos incontestáveis que entusiasmam a todos aqueles que sentiram de perto as emoções do Campeonato de 1961, da Série Verde. Que fazem este despretensioso articulista tornar à sua pena para transmitir aos leitores as impressões colhidas no decorrer dessa sensacional campanha esportiva.

(Publicado em 10.04.1962 na Folha da Tarde Esportiva, de Porto Alegre).

Seguindo no Túnel do Tempo > 50 anos



CRUZEIRO CAMPEÃO ESTADUAL – Segundo de uma série

Retornando ao que se disse no artigo anterior – apenas se fez justiça com a conquista do título de Campeão Estadual de Amadores da Série Verde pelo Esporte Clube Cruzeiro do Sul, de Jaguarão. Isto porque o trabalho no alto comando da entidade estrelada foi um trabalho de base, de coordenação e de planejamento. Assim é que, embora funcionassem independentemente para facilitar a administração, nenhum dos setores da Diretoria chegou a ser individualizado, em proveito do serviço realizado em conjunto.
Também merece uma citação especial a assistência médica proporcionada aos atletas através da eficiente colaboração dos Drs. Rudy Walter Kussler e Carlos José Gonçalves, os quais não mediram esforços no cuidado e recuperação da saúde daqueles. No sentido de complementar a alimentação, sob determinação médica, foram feitas aplicações de glicose e vitamina, por via muscular, nos jogadores às vésperas de partidas, de quinta a domingo; fato esse habitual em qualquer organização esportiva.
Ainda se pode mencionar certa preparação psicológica que se faz sentir entre os atletas. Todos pisam o gramado com a maior naturalidade e com um único fim – o de jogar football – nunca buscando vencer de qualquer maneira. Desta forma, apesar da invencibilidade mantida até agora, os cruzeiristas vêm sendo prevenidos a encarar a derrota como uma contingência do esporte para que possam, amanhã ou depois, sair-se de cabeça erguida e convencidos de que perderam para uma equipe melhor.
Outro fator que se deve abordar é a evolução tática que vem dando ao quadro tricolor um padrão de jogo definido. Nada menos de três sistemas já foram adotados em sua equipe – WM nas primeiras partidas, um 4-2-4 no Campeonato Municipal e 4-3-3 no Estadual. Após a decisão de sua chave no certame de amadores é que se deu o entrosamento no último dos sistemas citados com marcação por zona. Até o derradeiro jogo, muito discutido e criticado, porém, foi o que produziu melhor rendimento. Além disso, a sorte também ajudou, pois o ataque não deixou de anotar tentos nos momentos mais difíceis.
Em realidade, o Esporte Clube Cruzeiro do Sul é uma equipe amadora muito bem preparada com um rendimento satisfatório, capaz mesmo de surpreender alguns quadros profissionais, como o fez no ano passado ante os titulares do Farroupilha e do Pelotas, aos quais venceu respectivamente pelos escores de 3x2 e 2x1. E nesses jogos vem sendo reputada como uma equipe leve, que atua sempre leal e corretamente, quaisquer que sejam os resultados parciais obtidos, de maneira que os adversários saiam intactos ao findar a contenda.
E os louros conquistados não subiram à cabeça dos jogadores, dos dirigentes, dos associados e dos simpatizantes do clube das cores farroupilhas. Após a última contenda do Estadual, foram paralisadas por um período de 30 dias as atividades do Departamento de Football. Mas, já a 17 do corrente, deve ter sido iniciada a presente temporada, na qual serão conjugados todos os esforços no sentido de manter esta sequência de sucessos até agora apresentados pelo Esporte Clube Cruzeiro do Sul. “Que criou fama, mas não deitou na cama”...

(Publicado em 29.03.1962 na Folha da Tarde Esportiva, de Porto Alegre)

Túnel do Tempo: cinquenta anos atrás



CRUZEIRO CAMPEÃO ESTADUAL – Primeiro de uma série

18 de fevereiro de 1962. Chega a seu término o Campeonato Estadual de Amadores da Série Verde, correspondente à temporada de 1961. E conquista o título máximo o Esporte Clube Cruzeiro do Sul, de Jaguarão. Prêmio justo e merecido que vinha coroar com êxito um passado de lutas e glórias de uma das mais tradicionais entidades amadoristas do Estado. Fundada em 1924, a agremiação esportiva baluarte daquela cidade vem se mantendo garbosamente através dos tempos – tantos e tantos clubes passaram enquanto essa vai ficando.
Realmente, vários fatores contribuíram de modo decisivo na brilhante campanha encetada pelo quadro tricolor, invicto há 49 jogos. Entre eles, a organização exemplar da Diretoria, a eficiente orientação técnica, a disciplina e camaradagem dos atletas nos treinos e concentrações e a torcida da colônia jaguarense radicada em Porto Alegre nos jogos de Guaíba e Canoas. Nas excursões, os dirigentes estrelados não pouparam esforços em proporcionar a máxima assistência aos jogadores. Estes eram transportados nas condições melhores possíveis e chegaram até a serem concentrados na Praia da Alegria, às vésperas dos cotejos finais.
São unânimes os jogadores em salientar a orientação técnica que vêm recebendo – a do Dr. José Antônio Candiota Duarte da Silva, Campeão Panamericano de 1956 – sem igual até então nos clubes locais. Treinamentos intensos são realizados durante a semana, com ensaios de conjunto às terças e quintas e preparo físico às quartas e sextas. No decorrer dos treinos, existe um revezamento entre titulares e aspirantes, resultando sempre a escalação do que render melhor. E não participa dos cotejos o atleta que não treina. Por esse motivo, embora visados, vários elementos de fora não chegaram a ser utilizados. Unicamente têm a sua oportunidade os mais assíduos e persistentes nas práticas.
Impressiona sobremaneira a facilidade e o jeito todo especial com que o treinador manobra cada um dos seus pupilos. O que resulta de um saneamento mental empreendido através de uma disciplina rígida e inflexível com poucas punições, porém, de caráter profundo. Em Pedro Osório, alguns elementos de destaque encontravam-se afastados da equipe que mesmo assim ainda conseguiu um empate de 1x1 frente ao Piratini local. E esta disciplina é mantida fora e dentro de campo. Basta dizer que a agremiação vem granjeando um ótimo conceito em todas as homenagens de que lançaram mão.
Na temporada passada, um grande plantel de jogadores esteve em ação – Oscar, Almir e Luiz Carlos (arqueiros), Cordeiro, Pedrinho, Silveira e Aramis (zagueiros), Ludwig, Oliveira, Bittencourt, Cacaio e Fontoura (médios), Afonso, Nogue, Otaviano, Luiz Orlando, Adãozinho, Neca, Elbio, Vitor Hugo e Pitella (artilheiros). Todos em iguais condições e nenhum titular absoluto, de modo geral, correspondendo perfeitamente bem. Reservas apenas eventuais, mas sempre prontos para intervir nas partidas.
Após o jogo em Canoas, muitos dos atletas mostravam-se desejosos de chegar a Porto Alegre. No entanto, voltaram para a Praia da Alegria, onde estiveram concentrados. Lá o treinador Duarte fez-lhes ver da necessidade de repousar, tendo em vista a viagem longa e cansativa que tinham pela frente e o pouco tempo de que dispunham para os “aprontos” da contenda decisiva do Campeonato. Mas deixou a critério de cada um essa resolução e todos prontamente lhe atenderam o aviso. Comentando o fato, Duarte apenas se limitou a citar Osório – “É fácil a missão de comandar homens livres: basta lhes mostrar o caminho do dever”.
(Publicado em 20.03.1962 na Folha da Tarde Esportiva, de Porto Alegre).

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Há exatos 50 anos em meus alfarrábios


CRUZEIRO NAS FINAIS DO ESTADUAL DE AMADORES
(Publicado em 17.02.2012 no jornal “A Folha”, de Jaguarão.)

Aproxima-se do seu término o certame estadual de amadores, promovido e realizado anualmente pela Federação Rio Grandense de Futebol. Classificados para as finais desse importante torneio o Esporte Clube Cruzeiro do Sul, desta cidade, e o Frigoríficos Nacionais Futebol Clube, de Canoas, disputam a conquista do galardão máximo do campeonato. Portanto, já tendo assegurado, um dos dois, o título de Vice-Campeão Estadual da Categoria, independente de qualquer resultado que possa ocorrer.
Aproveitando o ensejo, apresentamos nestas breves linhas, a título de esclarecimento, uma noção (talvez sujeita a incorreções) sobre o que seja o sistema de disputa desse Campeonato.

Disputantes e posição
A Série Verde compõe-se de 23 municípios, dos quais apenas 19 foram representados no certame de 1961. Esta série é subdividida em 3 grupos, enquadrados segundo 7 chaves.
Na chave 1, disputaram as agremiações G. E. Juventude (Candelária), A. E. Sobradinho, da cidade do mesmo nome, e G. A. Operário (Rio Pardo), sagrando-se esse último vencedor da referida.
Enfrentaram-se na chave 2 E. C. Itapuí (Guaíba), E. C. Guarani (Venâncio Aires) e G. E. Taquariense (Taquari), o primeiro dos quais vencendo essa chave.
As equipes representativas de Rio Pardo e Guaíba jogaram entre si para decidir o privilégio de disputar com o Atlético Mineiro F. C. (São Jerônimo), único integrante da chave 3, o título de campeão do grupo, conquistado pelo E. C. Itapuí.
Para apontar o vencedor da chave 4, puseram-se em disputa C. A. Camaquense (Camaquã), G. E. Juvenil (Tapes) e Juventus F. C. (Barra do Ribeiro), tendo triunfado esse último.
Na chave 5, que foi conquistada pelo representante de nossa cidade, disputaram ainda G. E. Internacional (Arroio Grande), F. C. Piratini (Pedro Osório) e Paulista F. C. (Pelotas).
O nosso valoroso E. C. Cruzeiro do Sul impôs-se ante os representantes de Barra do Ribeiro, conquistando assim o título de campeão do Grupo 2, para em seguida também triunfar ante o vencedor do Grupo 1 e habilitar-se às finais do certame.
O grupo 3, com uma só chave (6), foi vencido pelo Frigoríficos Nacionais F. C. (Canoas) ante as equipes do G. A. Juventude (Esteio) e do F. C. Estância Velha, da localidade que lhe empresta a denominação.
O Avenida F. C. (Porto Alegre), jogando ante o Tamoio F. C. (Viamão), venceu o grupo 4 (chave 7), porém, foi eliminado pela representação de Canoas, que já é adversária do campeão de nossa cidade nas finais do Estadual.

Os desistentes
Não participaram desse campeonato os representantes de Cachoeira do Sul (chave 1), General Câmara (chave 2), São Lourenço do Sul (chave 4) e São Leopoldo (chave 6). Observa-se portanto que as chaves 5 e 7 foram as únicas com atuação integral, o que já é um motivo de satisfação para nós, tendo em vista ser a nossa chave (5) a que teve maior número de concorrentes.

A maior liga do futebol amador
A primeira vista, ante um ligeiro exame do carnê do Campeonato Estadual de Amadores de 1961 (Série Verde), parece-nos ser o representante de São Jerônimo o mais privilegiado dos concorrentes do certame. No entanto, deve-se levar em conta que a Liga desse município possui 17 filiados, sendo bastante extenso o seu campeonato, com jogos inclusive no meio da semana. Basta se dizer que sua equipe representativa não foi o quadro campeão, mas sim o vencedor do primeiro turno do campeonato municipal, pois que este não tendo chegado a seu término na época aprazada pela F.R.G.F., tiveram os clubes de São Jerônimo que entrar em acordo para apontar o seu representante nesse Estadual de Amadores.

Datas aprazadas
Outro motivo nos chama a atenção, ou seja, as chaves 6 e 7 que constituem isoladas os grupos 3 e 4 respectivamente e cujos vencedores já podem disputar entre si uma candidatura às finais do Estadual. Entretanto, temos de levar em consideração que os campeonatos municipais de Esteio, Canoas, São Leopoldo e Porto Alegre possuem um elevado número de participantes. E o campeonato estadual já começa a ser disputado nos certames citadinos. Daí esse aparente privilégio.

Desempenho dos finalistas
O Frigoríficos Nacionais representa 6 municípios, disputando previamente um total de 8 partidas nesse certame, enquanto o E. C. Cruzeiro do Sul tem a si a responsabilidade de 17 municípios, totalizando 13 partidas jogadas. Como vemos, a nossa equipe passou por 75% dos concorrentes, disputando 25% das 50 partidas realizadas e a serem realizadas na Série Verde, salvo uma terceira contenda nessa decisão.

Considerações e sugestões
Tivemos oportunidade de palestrar amavelmente com um dos encarregados do Departamento do Interior da F.R.G.F., Sr. Luiz Santana, o qual nos forneceu gentilmente um ligeiro retrospecto de todos os jogos efetuados na Série Verde, bem como se prontificou a abordar e discutir francamente conosco o critério de disputas do Estadual de Amadores. E foi o que fizemos. Julgamos bastante ponderáveis muitos dos seus argumentos e compreendemos a complexidade na elaboração do carnê de jogos. Porém, solicitamos vênia para discordar em certos detalhes. Pareceu-nos ligeiramente “sacrificado” o grupos 1, enquanto os grupos 3 e 4 um pouco mais “descansados”. Apenas dizemos isso à luz da realidade, sem querer provocar polêmicas. Se não vejamos: 1º) desde 3 de dezembro (1961) os vencedores dos grupos 3 e 4 estavam aguardando a sua vez de enfrentar os vencedores dos grupos 1 e 2, somente conhecidos a 4 do corrente (fev/1961), dois meses passados; 2º) o vencedor do grupo 3, também desde 3 de dezembro (1961), esperava a ocasião de disputar com o vencedor do grupo 1, conhecido a 21 de janeiro (1961), quase dois meses parado.
E daqui a nossa sugestão aos dirigentes do Departamento do Interior da F.R.G.F. daquilo que nos parece ser a solução mais razoável: a transferência de São Jerônimo (chave 3) do grupo 1 para o grupo 3.

José Alberto de Souza

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

UM GURI EM BUSCA DE AVENTURA

Meus sonhos me aprontam cada “gancho”! Pois não é que me deparo com uma comadre que falava para outra ter lido no jornal uma reportagem sobre os perigos aos jovens saindo a cavalgar fora da cidade. “Peraí, eles passeavam a cavalo dentro da cidade?” – estranhei, quase invadindo a cena. Porém, veio-me à mente uma de minhas estadias na cidade de Tapes - RS, situada às margens da Lagoa dos Patos e considerada a mais plana ao nível do mar, onde constatei não ser incomum esse costume, mesmo fora do tradicional desfile no feriado comemorativo de 20 de setembro.
Nada mais natural para que se favoreçam longas caminhadas a pé ou pedaladas de bicicleta, apesar do comodismo daqueles que não dispensam o automóvel para se deslocar em pequenas distâncias. E do lazer daqueles que ainda têm como alternativa a prática da equitação no perímetro urbano. Sem submeter suas montarias a grandes esforços, os ginetes também desfrutam de um prazer mais ecológico e saudável. Eles circulam nas vias públicas, inteiramente despojados de qualquer pretensão de impressionar com suas esporádicas passagens, que nem chegam a ser notadas no passeio.
Essa conversa das comadres falando do inconveniente dos jovens pegarem a estrada montados em seus pingos me jogou em tempos distantes quando minha cidade parecia pequena demais para minhas perspectivas de vida. Jaguarão era o universo a que me restringia como se não bastassem minhas explorações pelas ruas, quando as percorria de cabo a rabo, uma por uma, às vezes, tentando chegar a pé nas vilas mais pobres e afastadas, em busca da aventura de sentir a realidade de outras paragens. Quantas vezes não me detive ali no Prado, querendo prosseguir pela saída da cidade.
Houve ocasiões em que alugava bicicleta para prolongar esses trajetos. Mesmo assim, essas novas expectativas não passavam de entradas Uruguai adentro, pela ponte cruzando o rio e seguindo na direção da Cochilla para trazer “pan alemán” ou então esticando mais até o cansaço me parar lá pelos lados da Tablada. Outras vezes, a gente pegava um pequeno bote para navegar rio acima, onde nos perdíamos num dos inúmeros braços e ficávamos horas dando voltas, sem a mínima orientação, apenas na base de tentativas para encontrar o caminho de volta ao curso principal das águas.
Um dia havia de chegar a que surgisse oportunidade de sair daquele insulamento e lá fui eu de carona num "jipão" do Exército, a convite do primo Cesário, para passar uns dias em sua residência de Bagé, onde servia numa das guarnições locais. Pelo caminho, a estadia no Paris Hotel, de Pelotas, contemplava pela janela entreaberta do quarto em que estávamos hospedados a imensa torre metálica do relógio do Mercado Público, cujo carrilhão batia preciso as horas. Eu começava a desbravar o mundo...