terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Um quebra cabeça para nossa memória


Em pé: Zé Maria, Buza, Plínio, Santana, Médio e Ladislau. Agachados: Sá Pinto, Domingos da Guia, Zezé, Eduardo Moura e Jaguarão. Equipe do Bangu em 1930, no Estádio de São Januário.

Em uma de suas obras, o escritor Eduardo Álvares de Souza Soares aventou a tese da diáspora da população jaguarense, em que os jovens se viam forçados a procurar outros centros em busca de melhores oportunidades em termos de mobilidade social. E o patrimônio arquitetônico que a cidade possui atesta bem essa evolução demográfica do município, onde cada prédio cadastrado tem uma história oculta para ser revelada através das pessoas que lá residiram e deixaram marcas de sua passagem através do tempo.
Alguns anos atrás, Fausto de Mattos Mello Ferreira, português de Aveiro, já falecido, por duas vezes, andou circulando por Jaguarão em visita de reminiscências. Pois o Fausto era neto do tio Joaquim, que enviuvou em Portugal e veio dar com os costados nestas plagas pampianas, acompanhado de sua filha Celeste e mais o genro e netos. Esse genro, cujo nome não recordo, foi gerente do Banco Português, antecessor do Pelotense e do Banrisul e residiu por certo tempo em nossa terra, regressando após com a família às suas origens. Aquele avô de Fausto casou com tia Maria José, uma das irmãs de meu pai José Dalberto, e terminou ficando por aqui até o fim de seus dias.
Quando saiu de Jaguarão, Fausto tinha 10 anos de idade e só veio rever as terras brasileiras quando já alcançava a 65 bem vividos, um sonho acalentado durante toda essa ausência, sempre suspirando por um retorno a seus tempos de infância. E aquele menino renasceu caminhando desde cedo pelas antigas ruas que ele jamais esquecera, reconhecendo cada prédio e lembrando até de seus velhos moradores. Isto que ele já vinha se correspondendo por um período bastante prolongado com nosso confrade Jorge Passos, a pretexto de resolver certa pendência na Receita Federal.
De minha parte, às vezes me vejo em palpos de aranha, quando me solicitam informações que dizem respeito a épocas anteriores a meu nascimento. A nossa memória vai se perdendo no tempo e não tem jeito de se resgatar o que procuramos. A transferência para Porto Alegre, em 1937, do 3º Regimento de Cavalaria Divisionária tem dado muito pano para mangas em matéria de pesquisas. Exemplo disso ai está o Grêmio Esportivo General Osório, agremiação que foi campeã jaguarense de futebol em 35 e 36, chegando a disputar o Gauchão, conforme nos foi demonstrado por Douglas Marcelo Rambor, pesquisador de Três Coroas. E quem se habilita para esclarecer esse assunto?
Em 13/05/1987, Zero Hora (p.49) publicou entrevista concedida a Cláudio Dienstmann, pelo historiador Carlos Lopes dos Santos, sob o título “História do Negro no Futebol Gaúcho”, da qual me permito reproduzir a abordagem final da referida matéria: - “Mas quando Luiz Carvalho, grande centro-avante do Grêmio, foi para o Rio de Janeiro e jogou no Botafogo, ele fez questão de levar um jogador negro, o Jaguarão, ponteiro-esquerdo, criado no Palmeiras, da várzea de Porto Alegre. Só que o Botafogo não aceitou o Jaguarão, porque era preto e ele foi parar no Bangu. No primeiro jogo entre os dois clubes, o Botafogo com Luiz Carvalho, tomou 5x0 do Bangu – três golos do Jaguarão. Era um tipo Tesourinha, mais forte”. 
Recentemente, encontrei uma foto do Bangu onde aparece esse atleta: http://esquadroesdefutebol.blogspot.com.br/2010/04/bangu-ac.htmlDesde então tenho me perguntado se esse jogador seria mesmo natural de Jaguarão? Se alguém na época sabia que um conterrâneo brilhava no time dos “mulatinhos rosados”, onde despontava um Domingos da Guia, figurando ao lado do maior artilheiro da história da tradicional agremiação – Ladislau, com 223 golos? Como diria o grande Érico Veríssimo, “eta, mundo velho sem porteira”, por aonde vão se espalhando os nossos “jaguarões”?

3 comentários:

Anônimo disse...

Poeta,por aqui, nos cafundós do Judas, tivemos a nossa diaspora futebolista. Um exemplo foi o grande zagueiro Pedro Basílio, que saiu da cidade Crateús e foi jogar nos Colorados gaucho, time do poeta Fabrício Carpinejar.Abraços.
Raimundo Cãndido

hunder disse...

Parabens pela tua pesquisa e comentários sobre a diáspora que certamente não foi só do futubol, mas, também em outras áreas. O Tempo tem apagado da memória os acontecimentos e a vivência na cidade heróica. Um abraço.Hunder

J P disse...

Caro José Alberto,

Beleza de matéria, quanto ao nosso amigo Fausto, na verdade tive contato com ele pois mandava cartas para Jaguarão e ninguém respondia, mandou para a Prefeitura, para Casa de cultura e também para a Receita Federal. O inspetor na época sabia que eu mantinha correspondência variada devido ao xadrez e me passou a carta do Fausto, nela ele perguntava coisas da cidade e dizia ter morado aqui até a década de 30. Eu respondi e mandei alguns postais da cidade, isso foi lá pelos anos 91, 92 e ainda não tinhamos esse desenvolvimento da internet. Pois algumas semanas depois ele me respondeu, dizendo que estava vindo ao Brasil e a Jaguarão para rememorar a sua infância por aqui. Mas isto merece uma narrativa mais minuciosa. Abraço! PS, infelizmente creio que extraviei nossas antigas missivas!