terça-feira, 15 de julho de 2014

QUEM DIRIA: QUE ESTA GENTE ANDOU POR LÁ

Carlos José Azevedo Machado, o Professor Maninho, está preparando uma tese de mestrado na UFPEL sobre Memória Social e Patrimônio Cultural e me solicita um depoimento acerca daquilo que vivenciei no Cine Teatro Esperança, de Jaguarão. Para início de conversa, devo relatar a indignação do amigo João Campelo Costa, o “Ceará”, falando da entrevista do ator Paulo Autran com a apresentadora Cristina Ranzolin, na qual ele citava os diferentes teatros do mundo inteiro, onde representara a sua arte, incluindo aqui no Estado nossa terra. E não é que Cristina não conseguiu se conter para lhe perguntar como é que ele, já sendo aplaudido em grandes metrópoles da América e da Europa, sentiu-se pisando o palco de uma cidadezinha inexpressiva como Jaguarão.
Em verdade, criei-me na mentalidade do “já teve” de tanto ouvir falar daquelas companhias líricas que faziam ponto de parada em Jaguarão em seus deslocamentos de São Paulo e Rio de Janeiro para as repúblicas do Prata, privilegiando nossa cidade com memoráveis temporadas. A acústica do Teatro Esperança sempre foi destacada pela sua clareza para se ouvir perfeitamente os diálogos encenados a partir da ribalta, encantando todos os artistas que ali se apresentavam. Entre aqueles que chegaram a meu tempo, era useira e vezeira em se hospedar no Gerundo Hotel a pianista Luzia Felix, sempre acompanhada do marido, o humorista Sérgio Felix, os quais nunca deixavam de marcar sua presença no vetusto Esperança, antes de seguirem para Montevidéu.
Outra das inesquecíveis atrações que ali tive oportunidade de presenciar, recordo da veterana cantora Dircinha Batista, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Muito simpática, ela falou da sua vinda a Jaguarão como uma viagem sentimental que trazia a lembrança daquelas excursões que fazia com seu pai, o cantor Batista Júnior, e sua irmã Linda, inclusive já tendo estado nesta região sul do Estado. Era de se ver como ela cativou naquele momento a plateia do nosso Teatro que a deixava entusiasmada e feliz com a receptividade jaguarense, a ponto de manifestar seu desejo de um breve regresso e sua promessa de vir acompanhada da outra irmã, também famosa, Linda Batista. Azar o nosso que não chegou a se concretizar essa expectativa.
Já que Professor Maninho me provocou para pisar nestas brasas de uma fogueira mental, nem precisei esconder a primeira ideia que me ocorreu. Veio-me à mente certa peça encenada no antigo “politeama”, cujo título me parecia “Helena abriu...” que procurei conferir com o "expert" Luiz Carlos Dutra Monteiro e ele prontamente me corrigiu: “Helena fechou a porta”, apesar de desconhecer o ator principal da cena. Martelava-me o cérebro um tal de Luiz, do Teatro do Estudante. Em contato com a Coordenação de Artes Cênicas (SMC/P. Alegre), Breno Ketzer Saul gentilmente me envia mensagem com o artigo “Teatrodo Estudante do Rio Grande do Sul” e eis que me “aparece a margarida” LUÍS TITO na direção daqueles espetáculos.
Das minhas andanças internauticas, fico sabendo que a peça “Helena fechou a porta”, autoria de Accioly Neto, teve sua estreia no Teatro Copacabana do Rio de Janeiro, em 1950, estrelada por Tônia Carrero e Paulo Autran. Também consigo algumas informações sobre o ator e diretor teatral Luís Tito, que chegou a trabalhar com Cacilda Becker, Walmor Chagas, Célia Helena e Raul Cortez em “Santa Maria Fabril SA” (1958), de Abílio Pereira de Almeida, além de “Os Perigos da Pureza” (1959), ambas as montagens da Cia. de Teatro Cacilda Becker. E no cinema, encontro sua participação em “Caçula do Barulho”, contracenando com Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte e Gianna Maria Canale. Acredito que se possa ter uma ideia da importância daquela viagem do Teatro do Estudante, em 1954, pelo interior gaúcho.
Ainda me ocorrem outras passagens a serem reveladas para ilustrar a história de uma das mais tradicionais casas de espetáculos do nosso Estado, que se ombreia com o Teatro São Pedro, de Porto Alegre, mais o Sete de Abril e o Guarani, de Pelotas. Assim, devo prosseguir numa próxima postagem, atendendo o dever de casa que me foi passado.

5 comentários:

Anônimo disse...

OI, JSOUZA
em tudo o que leio e vejo tua presença altiva de conselheiro dedicado e sempre colaborador, muito me orgulho em me considerar como sendo teu amigo e admirador.
Mais ainda quando te vejo cercado de pessoas que afinam com tua maneira de viver a vida em intensa harmonia com irmãos de sentimento e alma.
Meus parabéns pelas parcerias presentes a teu lado.
GREIS

Vera Lúcia Souza Pacheco disse...

Obrigada Tio,
maravilhosa contribuição,
beijão!

Carlos José de Azevedo Machado disse...

Meu poetadasaguasdoces, li hoje cedo numa olhada só e tive que sair. Agora à noite, voltando de uma aula em Pelotas, retorno com mais afinco a este maravilhos texto. Não tinha dúvidas de suas reminiscências sobre as atividades de nosso Teatro Esperança. Estas lembranças repassadas pelo talendo deste poeta só vem engrandecer nosso pequeno papel de preparar uma monografia que tem o Esperança como pano de fundo. Meu agradecimento e meu fraterno abraço.

Helena Ortiz disse...

Tu também abres portas, Souza, as indispensáveis portas da memória, sem as quais não se constrói o futuro. Grande abraço

Clarice Villac disse...

Quantas imagens e histórias, que vão indo além nas asas da memória !

Que bom, Parabéns, Poeta das Águas Doces !