Na 41ª. Feira do Livro de Porto Alegre (1995), Caio Fernando Abreu se dizia mais padroeiro do que patrono. Em nossa postagem “O Pirata que virou Papagaio” tivemos oportunidade de traçar um perfil dessa figura carismática que passamos
a adotar como Patrono do nosso blogue, pelo que representou como incentivador e
inspirador de vários textos aqui publicados. E eis que na semana p assada o
nosso querido Professor Glênio Reis deixa de nos brindar com seu rico convívio,
legando a sua imensa bagagem de preciosos ensinamentos que estão ai para serem
postos em prática. Patrono deste Poeta das Águas Doces ele sempre vai ser, agora
acrescido da sua condição de Padroeiro das boas causas que sempre abraçou.
Após
a perda da amada Anésia há quatro anos, restou-lhe o consolo da companhia de
suas filhas Ellen e Rosy e da neta Carolina, grandes alegrias de toda sua vida.
Além da sua grande paixão pela radiofonia, a qual se agarrou com unhas e dentes
até o último dia 2 de agosto, sempre motivado pela apresentação nas noites de
sábado do programa Sem Fronteiras, da Rádio Gaúcha. Tanto assim que, internado
no Hospital São Francisco, a fim de se submeter a exames médicos, justificava
sua ausência na semana seguinte e prometia voltar neste último dia 16. Porém,
submetido à cirurgia de emergência dois dias antes, devido a seu estado
fragilizado não resistiu à falência múltipla de órgãos. Ao completar oitenta
anos, nosso blogue registrou “24 de Outubro de 1927”.
Ao
ser conduzido à sua última morada no São Miguel e Almas, foi prestada tocante
despedida na palavra do comunicador Paulo Santana que frisou “a qualidade de
Glênio Reis de nunca ter entrado em atrito com quem quer que fosse em toda sua
existência, enquanto ele Santana tinha mais de dez por dia”... Foi o que sempre
constatei como característica da família Reis, todos sem exceção bastante
atenciosos e gentis quando me recebiam, seja pessoalmente ou através de telefonemas
e mensagens eletrônicas. Era minha segunda família em termos de estima e
afinidade. Certa vez, manifestei a nosso amigo comum, Guilherme Braga, desejo
de visitar Glênio em sua casa, prontamente atendido, e lá chegando Glênio disse
que estaria a meu dispor em qualquer ocasião.
Decidi
postar acima o vídeo Norminha Duval – Tea for Two para mostrar a participação
do GR regendo o acompanhamento de palmas, o gravadorzinho numa das mãos,
durante a apresentação daquela consagrada violonista no foyer do Teatro São
Pedro, gesto muito típico deste comunicador, do qual se valia para animar
qualquer performance onde se fizesse presente. Aliás, tive de batalhar um pouco
para fazer aproximação da Norminha, a quem estive sondando para levar ao Sem
Fronteiras. Reis relutante e Duval insistente, foi um caro custo até que surgiu
a oportunidade. Ai, minha gente, acendeu o “amor à antiga vista” de que o Glênio
não se lembrava mais dos tempos do GR Show, quando Norminha desempenhava a sua
arte por lá. Acabou “arrombando” no Sem Fronteiras...
6 comentários:
Convivi muito com ele aí em Porto Alegre e sempre mantivemos correspondência via e-mail.
Glênio me prestou homenagens em eventos em Porto Alegre. De certa feita, fui levado a uma tocata de choro, como assistente. Todos me conheciam. Mas no meio das apresentações, Glênio interferiu: "Temos aqui de visita um extraordinário percussionista, vindo de São Paulo. E sem desmérito ao nosso pessoal, não vamos perder a oportunidade de vê-lo tocar. Sugiro que seja convidado a participar do Grupo."
Glênio era um gentleman. Fleuma inglesa. Competente. Solícito.
Brilhante registro, Souza.
Realmente, o Glênio deixou um vazio bem triste, com sua partida.
Abraço forte.
Amigo José Alberto,
muito linda e alegre sua homenagem ao seu amigo querido !
Excelente o vídeo da violonista, o amor à Música, à boa convivência, são grandes heranças !
um abraço solidário !
Muito justa a hommenagem a Glenio Reis.
Isto demonstra o apreço e solidariedade de ti àquele inigualável comunicador.
Parabens, José Alberto
Magnífico o teu texto, Souza, sobre o nosso querido Glênio Reis, sem dúvida um ícone na radiofonia de nossa terra. Tratava-se de uma figura ímpar, sempre disposto a ajudar e a dar belas sugestões a uma plêiade de nomes importantes no mundo da música de nosso Estado. Glênio vai nos deixar um vazio que dificilmente poderá ser preenchido. Restar-nos-á sua saudosa lembrança e sua voz jovial e inconfundível.
Seu Souza , como tudo o que o senhor escreve, o texto é claro e verossímil. Retrata o jeitinho do pai.
O vídeo reforça a espontaneidade e simplicidade dele em sempre ressaltar e valorizar o artista.
Falar do radialista?
Falar do meu adorável pai?
Na realidade as duas coisas sempre se confundiram . Não saberia até onde era um ou outro: pai-radialista ou radialista-pai já que sempre participei muito de perto da vida profissional dele. Foi ele quem refinou meu gosto musical e me fez aprender a ouvir música prestando atenção na melodia, nos instrumentos, na emoção...
Era ele que nos passeios de carro fazia brincadeiras onde dizia : a palavra é... E a gente teria que cantar uma música que tivesse aquela palavra... Era uma farra....
Meu pai tinha uma orquestra inteira na cabeça com todos os instrumentos muito bem afinados.
Sua vida foi dedicada a ouvir música, analisar e admirar arranjos... Sempre viajando nas melodias musicais e nas vozes de cantores e cantoras... Este foi o meu pai. Sempre nos acarinhando com suas descobertas fosse voz, fosse melodia.
Para ele o mundo sem música seria como um mundo sem cor. Assim ele foi colorindo nosso dia a dia, através da música que tocava, transbordava alegria, vida, euforia, dor, amor... Refinando assim nossa sensibilidade.
Pai te amo!
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