quarta-feira, 15 de julho de 2015

AQUELAS INSTIGANTES CARTAS D'ALÉM MAR !



Grata surpresa! Recebemos carta de Portugal, dos Açores. Assinada por um nome consagrado da nossa literatura: LuizAntonio de Assis Brasil. Letra a letra, digerimos as palavras vagarosamente a fim de prolongar o sabor da crônica gostosa. Detalhista, ele nos faz relato de sua atual estadia naquele arquipélago, em Ponta Delgada, a capital sediada na ilha de São Miguel. Desse primor de correspondência, extraímos alguns trechos para repartir com os leitores de A FONTE a honrosa exclusividade.
O impulso de continuar lendo Assis Brasil é tão intenso que nos desperta a curiosidade para o seu livro de estreia, escrito em 1976 – “Um Quarto de Légua em Quadro” – que trata justamente da saga da colonização açoriana em terras gaúchas.
Nos três cadernos que compõem o diário do médico Dr. Gaspar de Froes, podemos sentir a trajetória dos ilhéus desde sua chegada à antiga Vila do Desterro (Ilha de Santa Catarina), até sua instalação no Porto dos Casais, que deu origem à capital do Estado do Rio Grande do Sul.
A sacrificada travessia marítima (maligna, mal de Luanda, febres), a estada provisória no Desterro e depois na Vila do Rio Grande, a demarcação das fronteiras acertada pelo Tratado de Madri entre Portugal e Espanha, a precariedade do arranchamento no Morro de Santana, tudo inquieta o narrador que se identifica com a sua gente através de um sentimento generalizado de frustração: o descaso com a sorte desses colonos consequente da indiferença dos planejadores da ocupação dos vazios geográficos da América do Sul. 
A realidade da pesquisa histórica se entremeia com a ficção do drama íntimo de personagens comuns, conformados em sobreviver num meio estranho e inóspito. Enfim, o autor reconstitui um dos tantos momentos cruciais nos vários deslocamentos daqueles milhares de adultos e crianças trazidos dos Açores – “tocados de lá para cá como gado manso”. 

(Publicado em A Fonte, Jornal de Integração de Santo Antônio da Patrulha e Litoral Norte, na 2ª quinzena de Março de 1992, Ano I, Nº 1).

2 comentários:

Academia de Letras de Crateús - ALC disse...

Este texto levou-me, novamente, à Porto Alegre. Vi-me naqueles descampado imenso de grama verdinha e lá no meio um monumento que me assustou, a princípio não entendi, pois não conhecia a história. Hoje sei o que representa o largo dos açorianos, são os primeiros 60 casais que povoaram as margens do Guaiba, o irmão distante do nosso Poti. Um abraço, grande amigo e poeta das águas doces.

Marco Aurélio Vasconcellos disse...

Marco Aurélio Vasconcellos escreveu:
Pelos motivos que já te exteriorizei no meu último e-mail, aguçou-se agora minha curiosidade de ler o romance do ilustre e festejado Assis Brasil, o que vou fazê-lo, oxalá sem delongas. Apenas para ilustrar: como é sabido e mencionado no livro, os primeiros açorianos saídos do arquipélago vieram ter na Ilha do Desterro (hoje Ilha de Santa Catarina), especificamente no lugar que hoje se denomina RIBEIRÃO DA ILHA. Ali existe ainda, devidamente reformado e bem cuidado, um seleto casario, na sua maior parte de apenas um piso, hoje habitado, na sua expressiva maioria, por afro-descendentes. Tudo gente boa e muito prestativa. Creio até que, em tempos remotos, aquele conglomerado se denominava Freguesia do Ribeirão da Ilha, onde, inclusive, há uma bela Igreja (provavelmente construída pelos açorianos) que fica numa parte alta, dominando o povoamento ali estabelecido. Esse lugar merece ser conhecido. Faz frente para o continente e o mar ali é calmo. Pela rua que margeia o mar se chega ao Sul da ilha, onde há uma praia (da Caieira), de onde se vislumbra o Farol dos Naufragados.
Abraço imenso, caro Souza, mormente agora que fui devidamente instruído sobre a forma de como postar um comentário.
Em 16 de julho de 2015