quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Engenharia UFRGS 1965 - a turma que fez história

Matéria da ZH veiculada em outubro de 2004
Entrei no elevador com duas garotas vestidas para festa. Ambas com aproximadamente 20 anos de idade. Sorriram e eu disse: estive numa festa comemorando 40 anos de formatura. Só tinha velhos. Elas riram e ambas disseram: que bacana. 
As 9 h da noite entrei no Salão da Sociedade Germânia onde seria realizado o jantar de comemoração. Pareceu-me uma chegada ao futuro.  
Meus colegas estavam todos em avançada idade. Pareceu-me ser o único jovem. 
Não havia estranhos. Eu conhecia a todos. Uns mais, outros menos. 
“Os homens de mais de 60 anos pensam conhecer-se a todos, entre si.” 
Avancei ao fundo do salão e vislumbrei olhos e braços em minha direção. Minutos de convivência inseriram-me no contexto. 
Quarenta anos de separação não modificaram a relação de profunda ligação. Não perdemos a intimidade. 
Chegaram-se um a um, vários colegas da turma civil de 1965. Sem perguntas desnecessárias, ou comentários críticos. 
Alguém trouxe ao assunto a 1º Febic e a viagem à Europa dela decorrente. 
Lembrei a uns e relatei a outros detalhes pouco conhecidos do evento, como a ida de uma equipe de vendedores da feira a São Paulo e Rio, formado pelo Renaux Cunha, Mario Brasiliense, Tabajara Ricardo Pinto, este não colega mas meu parceiro de outras lides, e eu. Fomos de ônibus a São Paulo e sem aviso ou autorização, nos hospedamos na Casa do Estudante. Lembrei-me do encontro e da tentativa de contratação de Caio de Alcântara Machado, criador da Fenit, em seu escritório. Dos encontros e desencontros em São Paulo. Das visitas às indústrias. No Rio de Janeiro, o hotel de ultima categoria na Praça Mauá, onde ficamos hospedados; as noites em Copacabana na antiga Av. Atlântica. O sucesso da missão 
Uma sucessão de aventuras de lunáticos quase imberbes. 
A 1º Febic foi uma façanha de um grupo. 
Surgiu-me a ideia. O Flavio teve brilhante desempenho comercial. Mas jamais seria o que foi sem o trabalho coletivo.  E cada um dos participantes contribuiu  com ideias, suor e dedicação, representados pela logotipia e cartaz idealizados pelo Mario Brasiliense. 
A 1º Febic ocorrida há mais de 40 anos foi uma lição para a vida.  
Recentemente li uma entrevista com o jornalista Gay Talese que escreveu um livro sobre o New York Times.   Afirmou que “do que lê em  jornais acredita apenas nos resultados esportivos”. Lembrei-me da Febic. Inventamos o evento. 
Fizemos crer que a Escola da Engenharia o tenha organizado. Tivemos no papel o apoio de entidades governamentais voltados à indústria. Fizemo-la ser inaugurada pelo Ministro da Indústria e Comercio e pelo Governador Ildo Meneghetti. Na verdade - independentemente dos  diversos discursos usados para cada ocasião - captávamos recursos para ir à Europa. Subsidiariamente a feira trouxe benefícios à engenharia, à Escola, aos estudantes que nos sucederam e principalmente aos integrantes da AECI-65, pelos ensinamentos, experiências e resultados do trabalho. Tanto ali como na viagem que a sucederia.  
Cabe  especial lembrança do Diretor Professor  Leiseigneur de Faria que contribuiu de forma decisiva, cedendo o espaço da Escola de Engenharia, e por sua tolerância no decorrer do preparo e realização da feira. Convenhamos: bagunçamos a escola por dois ou três meses. Também aos inesquecíveis Eládio Petrucci e Adamastor Urriath pelo apoio e cessão do espaço do departamento para os escritórios  da feira, e demais professores do curso. 
A 1º Febic foi a demonstração da capacidade de uma geração em criar objetivo, métodos, planejamento e consegui-los. Sua historia  pode servir de inspiração  a nossos filhos e netos, quando a questão for busca dos objetivos. 
Quando eleito presidente da AECI-65 com a função de viabilizar a viagem do grupo à Europa, visitei o Mata-borrão prédio público provisório construído na esquina da Borges de Medeiros com a Andrade Neves, onde fica hoje o prédio da Caixa Estadual. Havia lá uma exposição não me lembro do que. Pensei em fazer uma feira para arrecadar fundos para nossa viagem. A ideia me veio à noite, na cama. Na manhã seguinte falei aos companheiros da AECI. Com a discussão o embrião deu margem a planos e metas. 
A ideia final foi utilizar os espaços da Escola de Engenharia e fazer uma feira industrial. Fez-se uma comissão organizadora e deu no que deu.  
Voltando à festa de confraternização no Germânia, cumpre registrar as notadas ausências dos que por motivos próprios não compareceram. E os que se foram prematuramente, donde destaco o Francisco Duarte Junior, o nenê. Que figura, que ausência. 
As imagens que a maioria tem deles são as gravadas há 40 anos, imortalizadas na foto da formatura. 
O Carlos Alberto Rosito um dos mais entusiastas organizadores do jantar não me conheceu de pronto quando da minha chegada. Seus olhos ficaram velhos. 
O Michelena e outros incansáveis aglutinadores merecem mais do que aplausos. São heróis. 
A minha sensação de intimidade e alegria foi anterior a qualquer taça de vinho ingerida. 
Não foi um encontro nostálgico. Foram momentos alegres de descontração. Uma reunião de valentes remanescentes de uma geração já fora do “prazo de garantia”. 
Ficou a expectativa de novos encontros mais restritos. Prometi manter contato e o faço. Sei das dificuldades, mas afinal, o que temos a perder? 
Ao final entrei no carro para retornar a casa e pensei: as meninas do elevador tem razão. Foi bacana.
Hélio da Conceição Fernandes Costa.

7 comentários:

Anônimo disse...

Caro Rosito,
Em nossa festa comprometi-me com colegas do Curso Civil a manter contato.
Faço-o agora com o texto relativo ao evento.
Apreciaria que retransmitisses aos colegas que por ventura não estejam na listagem a qual estou enviando.
Um abraço,
Hélio Fernandes Costa

Pompílio Vieira Loguércio disse...

Ótimo o texto do Hélio.

Parabens

Anônimo disse...

José Alberto,
muito bom o texto e belas lembranças,
inesquecíveis para ti.
Parabens. Hunder

Zinaida Tscherdantzew disse...

Oi Souza!
Parabéns mais uma vez. Eu viajo com os teus textos.
Como sempre, não consegui publicar meus comentários.
De qualquer forma, quero me declarar fã da tua escrita. Obrigada.
Abração

Laerte Antônio e Silva disse...

Parabéns, caro Souza!
Pelo recente aniversário inclusive!
65 Foi o ano em que nasci!

JASouza. disse...

Repasso os "confetis" recebidos ao colega Hélio da Conceição Fernandes Costa que assina o texto acima reproduzido.

Gilberto disse...

Muito bom texto e inspirador para as novas gerações que parecem ter envelhecido mais que a turma de 65.