quinta-feira, 22 de outubro de 2015

TOMEI UM ITA E ME FUI LÁ PARA O NORDESTE


http://academiadeletrasdecrateus.blogspot.com.br/2015/10/o-aracati-no-sertao.html

PAPO LEGAL

As crônicas do poeta cearense Raimundo Cândido Teixeira Filho, ilustre cria dos sertões de Cratheús, são uma provocação a nos desafiar a vontade de prosear, sentado na calçada, jogando conversa fora.
Eis que ele acaba de pinçar uma inédita manifestação sertaneja no prolífero dicionário cearês - “a genial expressão “B.R.O brós” só para indicar os meses mais quentes do ano, de setembro a dezembro”.
Prosseguindo, arremata o período com uma sentença folclórica: “Dizem que o mundo, uma vez, findou-se com muita água e que, agora, vai se acabar é nas labaredas de fogo e o foco é no sertão cearense”.
Peço licença ao Professor pra me trasladar de cadeira e cuia até sua calçada e me sentar sem cerimônia alguma, aproveitando a brisa refrescante deste Aratiba amigo que surge em madrugadores mormaços.
Ah, se eu não falaria das estripulias de “El Niño” lá pelas bandas do Pacífico, causando esta tremenda bagunça que não deixa de ser sempre inversão de valores com inundação no Sul e seca no Nordeste.
Até proporia uma força tarefa de serafins bombeiros a fim de impelir essa nossa enxurrada a irrigar aquelas áridas terras do Agreste, combatendo as maléficas intenções do Capeta nesta fornalha acesa.
Para consolo desse nobre Vate, ainda relataria certa madrugada na praia de Tramandaí, em que alguns moradores do condomínio Quebra-Mar acomodaram seus colchões e ventiladores nos corredores externos.
Vixe, foi uma vez só, nem precisei aquecer água para o chimarrão, mas que me senti reencarnado nas profundezas ígneas, palavra que senti, duvidando existir qualquer calorão senegalesco mais intenso.
E você ainda fala de outro Aratiba desviando-se pelas esquinas desta cidade e revoludteando “santinhos” de mico leão dourado, onça pintada e garoupa que gerariam corrupção entre políticos e eleitores.
Parece-me, Mundinho, que os ventos se comunicam entre si, se não como explicar que o nosso Minuano venha compactuando com essa safadeza engendrada pelo manhoso Aratiba nestas tão longínquas paragens.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

NEM ACREDITO: DEPOIS DA PRATA, VEM OURO

Rumo ao Cinquentenário de Formatura, puxando a fila com Eberle, Araújo, Ferlauto, Michelena, Schmitt... 


No próximo dia 27 de novembro, a Turma de Engenheiros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduados em 1965, estará promovendo encontro de confraternização comemorativo a seu cinquentenário de formatura, que deverá se realizar, a partir das 19 horas na Sociedade Germânia. De um total de 142 formandos, já confirmaram sua presença nesse evento 74 colegas, e mais oito, incluídos alguns da turma de 1966 que ingressaram conosco na Escola de Engenharia em 1961. Como convidados especiais se farão presentes os professores Athos Stern, Domingos Matias Urroz Lopes, Eurico Trindade Neves, Nicolau Jorge Waquil e Paulo Mazeron. 
Recebendo diploma do paraninfo Prof. Antenor Wink Brum.
Outra cerimônia ocorrerá a 20 de novembro vindouro no Salão de Atos da Reitoria (Avenida Paula Gama, 110), quando a Associação de Antigos Alunos da UFRGS vai recepcionar, às 17h30min, os jubilados de 1965, 1990 e 2005. Junto com minha esposa Gislaine, também formada em 1965 no curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, e mais os colegas engenheiros Roberto Júlio Beretta e Jorge Miguel Heinenberg, tivemos oportunidade de participar em 1990 da celebração promovida pela Universidade, alusiva aos 25 anos de formatura. 
Na ocasião, encontrei o professor de Cálculo Infinitesimal, engenheiro José Olimpio de Abreu Lima (Oscarito), comemorando seus 50 anos de formatura. E procurei o velho mestre para que tomasse conhecimento de que ele era grande responsável por eu estar sendo jubilado naquele momento, relatando-lhe o exame oral em que me deu aquele branco na presença do mais temível “ralador” da Escola e joguei a toalha para desistir da Engenharia de uma vez por todas. E ele não permitiu que assim procedesse, encaminhando-me ao quadro negro para me fazer algumas perguntas, as quais respondi conseguindo vencer aquele bloqueio momentâneo e assim discorrer sobre o ponto sorteado, permitindo minha aprovação naquela cadeira.
Abreu Lima surpreendeu-se com aquela minha manifestação, já que estava acostumado justamente com o contrário, como de certa vez num voo aéreo, onde um dos pilotos, ao ver seu nome na lista de passageiros, procurou-o para lhe cumprimentar. Apresentando-se como seu ex-aluno, logo revelou que “graças ao senhor, o Brasil perdeu um Engenheiro, mas em compensação ganhou um grande Comandante de Aviação”. No entanto, apesar de aprovado em Cálculo Infinitesimal, fiquei dependente em Geometria Analítica, no segundo ano, o que me fez optar pela Engenharia Mecânica, completando cinco cadeiras, o mesmo número dos demais cursos da Escola.
Em 18/12/1965, receberam diplomas de Mecânicos 41 colegas, dos quais 19 já confirmaram presença no evento. Nosso curso lidera o “ranking” com nove saudosos ausentes. Foram localizados mais nove ainda vivos, mas que provavelmente não poderão comparecer. Sem notícias, constam como desaparecidos Gerhard Paulo Böckler, Ivar Vildo Rojas Lopez (Bolívia), José Carlos Soares de Araujo e Milton Edison Scherer, Em 1966, quando ingressei na Ford, em São Paulo, encontrei lá os colegas José Alberto da Silva Barbosa (Metalúrgico), Alfredo Floriano Tonetto e José Carlos Soares de Araujo, estes dois últimos que gostaria bastante de rever.
Concluindo em 1958 o curso científico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, decidi encarar o vestibular de Engenharia nos anos de 1958, 1959 e 1960, quando finalmente consegui aprovação para ingresso na Escola. Lá encontrei Roberto Luiz Mold, Nelson Fetter Júnior, Hiparcus Raupp e Flávio Antunes Graziuso, egressos do Julinho que ali chegaram antes de mim. Aliás, devo ao colega Mold ter me tirado de uma saia justa logo no primeiro dia de aula, na frente do prédio novo da Engenharia. Ele e eu nos encontramos no momento em que não havia ninguém por perto. Pois apareci todo afeitado, de terno e gravata, e ele me aconselhou que trocasse a roupa para evitar maiores estragos com os “trotes” iminentes. “Mas já está em cima da hora, não vai dar tempo”. E Mold insistiu: “Te vira e encontra um lugar para troca de vestimenta”. Eurico, nosso bedel, me quebrou o galho, guardando ao menos casaco e gravata em local seguro. Depois da aula inaugural, os veteranos comandados por Sergio Chemale Selistre nos colocaram em ordem unida para nos conduzir aos canais da Redenção, onde nos batizaram com roupa e tudo a fim de assumir a condição de calouros. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015



S E R R A   D O S   M E N D I G O S

Escalei a árdua Serra dos Mendigos,
A trancos e barrancos, cambaleando
Atrás daqueles inesquecíveis amigos
Que por lá agora estivessem morando.

Nas trilhas da escura mata fechada,
Fiquei sabendo que ali se descobre
Uma verdade pela Natureza celebrada:
Ninguém é mais rico nem mais pobre.

Principia que dinheiro não vale nada
Quando se sente vibrante solidariedade
Surpreendendo a festa de chegada
E a alegria nos ares da liberdade.

Então surge vontade danada de ficar
Sem querer sair pelo resto da vida,
Descompromissado, à toa pra matutar
Sobre qualquer realidade conhecida.

Nesta aldeia, todos são despojados
De antigas vaidades tão costumeiras
Que os fizeram superiores adorados
Até alcançarem as horas derradeiras.

José Alberto de Souza.

sábado, 10 de outubro de 2015

Quando a gente tinha gás de sobra... * Para agitar!

Foto para a "Revista dos Sports": José Alberto de Souza e Newton Silva.

De início, gostaria de externar a V.S. grande honra de me dirigir à ilustre Secretaria de Turismo de minha terra natal. Outrossim, desejaria apresentar minhas escusas em face de imperdoável falha, apesar de involuntária, quando de última estada em Jaguarão, havendo solicitado audiência através do meu primo Anysio Resem, a qual não pude comparecer por desencontro na comunicação.
Assim justificado, passo a expor uma ideia que venho refletindo há tempos. Acontece que, a 01/06/1985 tive oportunidade de assistir o espetáculo “Noite de Seresta”, quando então me foi dada a grata satisfação de ser apresentado a Alcides Gonçalves, um dos grandes nomes da nossa música popular, conhecidíssimo em suas parcerias com Lupicínio Rodrigues, através de sucessos como “Cadeira Vazia”, “Quem Há de Dizer”, “Maria Rosa”, “Castigo” e outros mais.
Na ocasião, lembrei-me dos antigos programas de calouro da nossa Rádio Cultura, do saudoso Regional que se apresentava no palco do Cine Teatro Esperança. Os grandes cantores da cidade na época eram Severo, já falecido, e Adalberto Mendes. Este mesmo Adalberto, hoje aposentado e que, até pouco tempo atrás, pipoqueiro, sobrevivia da renda de sua humilde labuta. E eu então me questionava o quanto a nossa cidade não deve um preito de reconhecimento aos velhos artistas pelos valores culturais que nos legaram no passado.
Do convívio com o grande amigo Alcides Gonçalves, falecido a 09/01/1987, é que acabei me entrosando com uma parcela respeitável de músicos e cantores que fazem a noite porto-alegrense e, juntos, estamos empenhados em tornar realidade um desejo que aquele irmão tinha em vida, qual seja produzirmos a “Grande Seresta”, espetáculo beneficente, com renda total em favor do menor abandonado, evento já contando com apoio da Epatur.
Pois bem, a minha ideia seria programar no Teatro Esperança – a I Mostra Internacional do Músico Brasileiro, que prosseguiria sendo realizado anualmente. Confesso que o germe dessa sugestão resultou de conversa com o conterrâneo Newton Silva, o qual me colocou a par do potencial de mercado que a nossa música popular sempre alcançou no Uruguai e na Argentina.
Perdoe-me a expressão e o entusiasmo – mas seria um festival “para castelhano ver”, uma atração para difundir um dos polos turísticos inaproveitados de Jaguarão – o nosso Teatro! É bem verdade que algo similar foi feito a 22 e 23/maio/1987, com a recente realização do I Festival de Seresta de Jaguarão, iniciativa que merece toda a nossa consideração e incentivo pelo que de ineditismo encerra.
Portanto, contamos com a boa vontade e colaboração de alguns amigos:
Glênio Reis, que apresenta o programa “Gaúcha dá Samba”, aos sábados das 21 às 24 horas, na Rádio Gaúcha;
– Aroldo Dias, empresário que vem produzindo o show “Noite Seresta”, nesta cidade e em várias cidades do interior;
Jessé Silva, grande violonista de renome nacional e que já realizou em 1977 a “Noite da Música Brasileira”, no Salão de Atos da Reitoria/UFRGS.
Faço questão de salientar que dificilmente outra cidade da nossa fronteira teria condições de sediar um evento igual em face de inexistência de uma casa de espetáculos do porte do nosso Esperança. Além do que tal iniciativa representaria uma abertura de mercado de trabalho para cantores e músicos que ai poderiam encontrar interessados para eventuais apresentações.
Parece-me que se poderia pensar no assunto e encontrar uma maneira de viabilizá-lo. Por tal motivo, coloco à apreciação de V.S. essa ideia, esperando voltar a discutir e entrar em mais detalhes noutra oportunidade, para o que me disponho a atender qualquer solicitação.





Carta que não chegou a seu destino por ser extraviada nos porões daquela Municipalidade.


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Engenharia UFRGS 1965 - a turma que fez história

Matéria da ZH veiculada em outubro de 2004
Entrei no elevador com duas garotas vestidas para festa. Ambas com aproximadamente 20 anos de idade. Sorriram e eu disse: estive numa festa comemorando 40 anos de formatura. Só tinha velhos. Elas riram e ambas disseram: que bacana. 
As 9 h da noite entrei no Salão da Sociedade Germânia onde seria realizado o jantar de comemoração. Pareceu-me uma chegada ao futuro.  
Meus colegas estavam todos em avançada idade. Pareceu-me ser o único jovem. 
Não havia estranhos. Eu conhecia a todos. Uns mais, outros menos. 
“Os homens de mais de 60 anos pensam conhecer-se a todos, entre si.” 
Avancei ao fundo do salão e vislumbrei olhos e braços em minha direção. Minutos de convivência inseriram-me no contexto. 
Quarenta anos de separação não modificaram a relação de profunda ligação. Não perdemos a intimidade. 
Chegaram-se um a um, vários colegas da turma civil de 1965. Sem perguntas desnecessárias, ou comentários críticos. 
Alguém trouxe ao assunto a 1º Febic e a viagem à Europa dela decorrente. 
Lembrei a uns e relatei a outros detalhes pouco conhecidos do evento, como a ida de uma equipe de vendedores da feira a São Paulo e Rio, formado pelo Renaux Cunha, Mario Brasiliense, Tabajara Ricardo Pinto, este não colega mas meu parceiro de outras lides, e eu. Fomos de ônibus a São Paulo e sem aviso ou autorização, nos hospedamos na Casa do Estudante. Lembrei-me do encontro e da tentativa de contratação de Caio de Alcântara Machado, criador da Fenit, em seu escritório. Dos encontros e desencontros em São Paulo. Das visitas às indústrias. No Rio de Janeiro, o hotel de ultima categoria na Praça Mauá, onde ficamos hospedados; as noites em Copacabana na antiga Av. Atlântica. O sucesso da missão 
Uma sucessão de aventuras de lunáticos quase imberbes. 
A 1º Febic foi uma façanha de um grupo. 
Surgiu-me a ideia. O Flavio teve brilhante desempenho comercial. Mas jamais seria o que foi sem o trabalho coletivo.  E cada um dos participantes contribuiu  com ideias, suor e dedicação, representados pela logotipia e cartaz idealizados pelo Mario Brasiliense. 
A 1º Febic ocorrida há mais de 40 anos foi uma lição para a vida.  
Recentemente li uma entrevista com o jornalista Gay Talese que escreveu um livro sobre o New York Times.   Afirmou que “do que lê em  jornais acredita apenas nos resultados esportivos”. Lembrei-me da Febic. Inventamos o evento. 
Fizemos crer que a Escola da Engenharia o tenha organizado. Tivemos no papel o apoio de entidades governamentais voltados à indústria. Fizemo-la ser inaugurada pelo Ministro da Indústria e Comercio e pelo Governador Ildo Meneghetti. Na verdade - independentemente dos  diversos discursos usados para cada ocasião - captávamos recursos para ir à Europa. Subsidiariamente a feira trouxe benefícios à engenharia, à Escola, aos estudantes que nos sucederam e principalmente aos integrantes da AECI-65, pelos ensinamentos, experiências e resultados do trabalho. Tanto ali como na viagem que a sucederia.  
Cabe  especial lembrança do Diretor Professor  Leiseigneur de Faria que contribuiu de forma decisiva, cedendo o espaço da Escola de Engenharia, e por sua tolerância no decorrer do preparo e realização da feira. Convenhamos: bagunçamos a escola por dois ou três meses. Também aos inesquecíveis Eládio Petrucci e Adamastor Urriath pelo apoio e cessão do espaço do departamento para os escritórios  da feira, e demais professores do curso. 
A 1º Febic foi a demonstração da capacidade de uma geração em criar objetivo, métodos, planejamento e consegui-los. Sua historia  pode servir de inspiração  a nossos filhos e netos, quando a questão for busca dos objetivos. 
Quando eleito presidente da AECI-65 com a função de viabilizar a viagem do grupo à Europa, visitei o Mata-borrão prédio público provisório construído na esquina da Borges de Medeiros com a Andrade Neves, onde fica hoje o prédio da Caixa Estadual. Havia lá uma exposição não me lembro do que. Pensei em fazer uma feira para arrecadar fundos para nossa viagem. A ideia me veio à noite, na cama. Na manhã seguinte falei aos companheiros da AECI. Com a discussão o embrião deu margem a planos e metas. 
A ideia final foi utilizar os espaços da Escola de Engenharia e fazer uma feira industrial. Fez-se uma comissão organizadora e deu no que deu.  
Voltando à festa de confraternização no Germânia, cumpre registrar as notadas ausências dos que por motivos próprios não compareceram. E os que se foram prematuramente, donde destaco o Francisco Duarte Junior, o nenê. Que figura, que ausência. 
As imagens que a maioria tem deles são as gravadas há 40 anos, imortalizadas na foto da formatura. 
O Carlos Alberto Rosito um dos mais entusiastas organizadores do jantar não me conheceu de pronto quando da minha chegada. Seus olhos ficaram velhos. 
O Michelena e outros incansáveis aglutinadores merecem mais do que aplausos. São heróis. 
A minha sensação de intimidade e alegria foi anterior a qualquer taça de vinho ingerida. 
Não foi um encontro nostálgico. Foram momentos alegres de descontração. Uma reunião de valentes remanescentes de uma geração já fora do “prazo de garantia”. 
Ficou a expectativa de novos encontros mais restritos. Prometi manter contato e o faço. Sei das dificuldades, mas afinal, o que temos a perder? 
Ao final entrei no carro para retornar a casa e pensei: as meninas do elevador tem razão. Foi bacana.
Hélio da Conceição Fernandes Costa.