Cedemos nosso espaço para repicar parte da Apresentação do Especial Heitor Saldanha com o depoimento do Poeta Garoeiro, de Natal-RN, sobre uma das obras deste ilustre cruzaltense
3. Hora Evarista – Especulações...
Sob o título: “A Hora Evarista” a Editora Movimento, de Carlos Appel, lançou, em 1974, poemas de Heitor Saldanha, inclusive, os de: “A Nuvem e a Espera”, “As Galerias Escuras” e “A Outra Viagem”. Ainda que esse livro trouxesse refinados comentários de Manoel Sarmento Barata, Raymundo Faoro e José Louzeiro, nada é mencionado a respeito do título, onde está esse adjetivo singular, “evarista”, para qualificar aquela “hora” do poeta. Descartamos eventual referência que viesse da onomástica, pela antroponímia de “Evaristo”, nome próprio de origem latina.
Invenção, neologismo, aliteração, transliteração para abonar ou desabonar palavras, são atitudes constantes na criação poética e na literatura em geral. Nosso poeta poderia simplesmente ter achado bonito, sozinho em sua mesa, ou conversando com amigos, “A Hora Evarista”, que não é “A Hora H”, nem “A Última Hora”, mas é uma hora decisiva.
Também pode ser que ele tivesse lido o epíteto em algum tempo e lugar e por gosto e livre escolha adotado o enigma para título da compilação.
Nos poemas em que a expressão aparece um significado preciso não ganha abonação pela moldagem metafórica que a permeia.
As pistas rabiscadas pelo Poeta Heitor Saldanha, autor de "A Hora Evarista", são:
1ª) - página nº 9 - (título): a hora evarista (em letras minúsculas); com a epígrafe:
2ª) - página nº 10 - (título): A HORA EVARISTA (caixa alta), seguido de:
em que o universo suspira sua síntese
então passamos de cabeça baixa
era tão longe e não se sabia
que tudo é perto pra viver poesia
3ª) – página nº 11 – poema: "Dia dos Mortos":
pra não me perturbar em alucínio
apague os refletores que essa água mareia
estão desembarcando os passageiros
nesse campo de pouso disparado
é a hora evarista no tambor dos revólveres
por isso não há estampido
Pensando nisso, é possível que uma "hora evarista" seja, ao contrário da hora cronometrada, uma "hora de se viver fora de hora", "numa certa altura da vida", "com a síntese do universo ali, sendo suspirada"...
Ela poderia vir, por aproximação, do Latim, onde "sempre" admite, entre outras abonações: "semper", "umquam", "ever" e "in perpetuum".
Ora, considerando "ever" - também, como o mantém a Língua Inglesa - há de haver uma forma declinativa de "ever" para "evaris", acabando por ancorar o adjetivo "evarista", para qualificar uma determinada e singularíssima hora que seria para sempre, com duração diferente da "hora cronometrada", muito diferente:
Hora evarista = aquela que a gente quer que nunca acabe, que dure para sempre...
Poeta Garoeiro – Natal, RN, 21 de junho de 2017.
Programação: de 22 de junho a 29 de junho de 2017, o Reblog do Poeta Garoeiro homenageia o Poeta Heitor Saldanha, postando, dia a dia, um poema escolhido, dentre o manancial apuradíssimo que ele criou...